Choque Cultural

A coisa mais difícil na vida é sermos amados, mas não amados daquele jeito que todo mundo ama. Amados como alguém, no meio da multidão toda, que realmente importa.
Uma vez Marisa estava em Paris, de férias na casa de uns amigos de seus pais, o consul da Inglaterra. E na casa havia outros amigos e parentes da família que a hospedava, também me férias.Estavam eles todos, dois filhos dos donos da casa, os irmãos Eduard e Pamela, e um primo, o Antonio de Portugal, e tinha também Philipe era o filho do Consul dos EUA, e Rebecca, a  filha do Embaixador de Israel, na beira da piscina bebericando e conversando animadamente. Não se sabe bem o porque, talvez ele só quisesse chamar-lhe a tenção, ou era um esnobe preconceituoso mesmo. O fato é que quando apresentaram-na como do Brasil, o rapaz  disse em tom de ironia que os brasileiros amavam a tudo e qualquer um.
A menina arregala os olhos
_Como assim?
-Explico... Os brasileiros não gostam, eles adoram, não apreciam, eles amam. E isso se aplica a tudo... E quando amam de verdade , dizem o que?
Marisa não se aguentou de tanto rir...
_E você acha que, porque usam esta expressão, os brasileiros, não sabem amar? Ou achas que mentem por dizer que amam isso ou aquilo?
_Acho-os um pouco volúveis sim, e banalizaram o amor como sentimento.
Surpresa com tais afirmativas, Marisa contesta:
_Estou admirada com sua observação... já ouvi muita critica a respeito dos brasileiros, mas esta, é novidade. Quero salientar que sou brasileira mocinho, e tudo que disser aqui, será usado contra você no tribunal. Risos...
O rapaz fica sério. _ E quando não tem argumentação, eles também são cínicos e debochados.
Irritada Marisa esforça-se para disfarçar o tom de voz.
_ Como você se chama mesmo? Ah, Antonio. De onde você é ?
Todo orgulhoso ele bufa:_ Sou de Lisboa e alias, fomos nós a descobrir vocês.
Marisa  que tentava a todo custo se conter, explodiu em uma sonora gargalhada.
_Bem, confesso que você me pegou de surpresa agora. Isso de sua gente ter nos descoberto quer dizer o que? Veio-lhe a cabeça um bocado de desaforos para dizer aquele rapazinho metido a besta, mas ela riu tanto que quase chorou. E agora tentava recompor-se para poder dizer qualquer coisa que prestasse naquela conversa de malucos.
_Quer dizer que "vocês" nos devem o idioma que tem,  e toda uma gama cultural agregada como costumes, nomes, etc, etc...  E quando chegamos nas suas terras, eram apenas selvagens que grunhiam um dialeto qualquer.
Já irritadíssima, Marisa fecha a cara e retruca:
_Nós? Tenho só dezesseis anos e só sei o que a história conta e como cada um conta de um jeito, a exatidão é complicado aqui.
Claro que fomos colonizados por portugueses, e vieram depois os franceses, os  negros, e vieram holandeses, e ingleses, espanhóis , italianos e alemães  ...
Os índios eram realmente os donos da terra e os colonizadores não se fizeram de rogados, mataram a todos para adonaram-se das terras do Brasil. É óbvio também, que os índios, se ainda tivessem seus direitos preservados, teriam com certeza algo para acrescentar a estes seus comentários.
O rapaz vira-se para os amigos que estão na piscina e fala em voz calma e estudada.
_Temos uma protetora dos fracos e oprimidos aqui Eduard?
Os demais pararam de conversar, para prestar atenção aos dois, que pareciam mais gladiadores numa arena.
-Quem me dera eu fosse uma protetora, amigo português orgulhoso. Mas nem isso nos foi permitido, o direito de proteger nossa ancestralidade indígena. O Brasil, desde os tempo do império, tenta esquecer seu passado, supostamente selvagem, para valorizar culturas europeias.
_ E você amiga brasileira, valoriza o que?
_Digamos que gosto de estar inserida no mundo, e não tenho grande senso de patriotismo, até que escuto comentários menosprezando o Brasil e sua gente como nação. Sou brasileira sim, e ando por todo canto que me for permitido pelo direito de livre cidadã, e não é por eu me hospedar em seus hotéis de luxo que não percebo as misérias que assolam o planeta, portanto não tenho que escutar besteiras sobre o meu País de origem.
Não rezo pela Bíblia Sagrada, o que não quer dizer que a desprezo totalmente.
 Já estive em Portugal também, morei quatro anos com meus pais lá.
Quanto a ser amado ou não... Não tenho a menor ideia disso, mas certamente amo minha familia, meus amigos e eu adoro comer, beber e viajar. Risos...
Talvez os brasileiros não sejam assim tão diferentes do resto do mundo, uma vez que são gentes também.
O rapaz olha sem jeito para aquela moça franzina.
_ Ok ok , confesso que  foi um comentário capcioso este meu. Peço desculpas e comecemos outra vez, por favor. Prazer em  conhece-la Marisa do Brasil! Diz ele estendendo a mão.
E um sorriso aberto aparece na pequena, que também retribui: _ Igualmente  Antonio de Portugal.
Choques culturais existem e não devem nunca ser desprezados e foi isso que Antonio e Marisa fizeram.
Marisa e Antonio são amigos até a data de hoje, e respeitam-se como tal desde então.
Guerreira Xue


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