LINDOLFO, MADALENA E MARCO/ Continuação de Era uma vez na Toscana

“Alguns caminhos da vida nos levam invariavelmente a encontros numa mesma proporção de desencontros, e não pense que somos imunes ou ilesos de sentirmo-nos impotentes diante de certas situações. A exemplo disso faça um teste, diga ao seu coração, o que ele deve ou não sentir, para constatar de imediato a desobediência”.


A viagem pela Toscana que seria de quinze dias, acabou por se prolongar por quase dois meses, pois Lindolfo não queria deixar Madalena, não até ela dizer sim para o casamento de ambos. E quando ela finalmente concordou, Lindolfo tratou de voltar logo e “comunicar” a família sua decisão de casar-se novamente. Só de imaginar a cara de seus filhos Lindolfo já se ria, e saber que tinham um irmão mais velho então, seria uma comoção!
Ele mesmo ainda estarrecia com tal situação. Marco herdara o nome do avô materno, o que combinava muito com sua cor e temperamento latinos. Ao conversarem ele sabia quem era Lindolfo, desde o primeiro encontro. Mas confessou estar curioso em conhecer esse “pai” surgido do mundo, e caído de paraquedas nas suas vidas.
— Porque vieste agora? Preciso perguntar. — Podes perguntar o que quiser. — Lindolfo estava desarmado diante do filho. — Tive uma vida tão ocupada que me esqueci de Madalena, até o dia que sozinho escutei o meu coração. Me arrependo de não ter deixado rastros para Madalena me encontrar. Só estou aqui hoje porque ela tinha deixado uma pista num livro, a única lembrança de nossa história. — Olha, até te compreendo, pois mamãe contava como era a tua vida e não querias arrastá-la para uma situação desconfortável.
— Mas não quisestes nem tentar? — Seria como levar Madalena para o buraco, acredite.
— Queria ter estado presente desde o início da tua vida, me desculpe. — Disse Lindolfo humildemente. — Eu não sabia. Pensava estar fazendo o certo naquela época, mas o destino tinha outra ideia, e escreveu outro caminho para nós...
Marco olha para aquele senhor, um estranho que aos poucos vai tomando forma e característica, na sua visão. É difícil esquecer a solidão da infância. A mãe esforçava-se para suprir sua falta de pai, mas ver os amiguinhos com os pais no passeio o fazia triste por não ter o dele perto. Desde menino ele soube quem o pai era, e que talvez um dia ele viesse a saber, de sua existência.
Quando Marco chorava por não ter um pai, a mãe logo o consolava dizendo; — Tu tem pai sim Marco, e saiba que tu foi feito com o maior amor do mundo. Por isso que te adoro tanto.
Aquilo era um conforto para o garoto, e ainda tinha o tio José!
_Lo zio Giuseppe, fratello di mia madre, mi ha aiutato molto.
O mais interessante é não haver mágoa, ou rancor de ambas as partes, em relação a Lindolfo. O que ele sentia era uma aceitação do inevitável por parte de Madalena e Marco. Algo como se fosse um presente do destino, para os três. Ambos agora tinham uma oportunidade. Lindolfo resolveu contar sua parte da vida então para aquela família. Era justo saberem o porquê de sua renúncia.
— Eu não pude ficar com Madalena e sofri um bocado na época por causa disso. A minha mãe doente era completamente dependente. Só pude fazer o intercambio no México, porque tinha sido sorteado com uma bolsa de estudos. E a minha madrinha, com pena de mim, prometeu cuidar de minha mãe durante o meu curso. Madalena era moça de família rica, e para mim foi um sonho viver aqueles meses em sua companhia. Quantas vezes eu pensei em leva-la comigo, mas achava a minha realidade triste, para dividir com ela. O que tinha eu a oferecer-lhe? Então não havendo alternativa, voltei para casa. Minha mãe não tinha ninguém, só a mim, e eu sabia que não podia oferecer nada de concreto a Madalena. O jeito foi abrir mão daquele sorriso, do olhar, dos abraços... A minha mãe tinha depressão crônica, o pai os abandonara assim que descobriu o mal da esposa. O cabrão até quis me levar junto, mas não tive coragem de abandona-la, e assim fiquei do lado da mãe, até o seu último suspiro.
Trabalhei com arquitetura para uma empresa cuja matriz é sediada em Espanha. E quando a madrinha não podia ficar com a minha mãe durante o dia, a Matilda, uma amiga de infância e vizinha de porta, cuidava que não faltasse nada na cabeceira, pois ela muito pouco saia da cama.
O casamento acabou por acontecer naturalmente com Matilda, porque ela estava sempre por perto, apoiando-me e incentivando.
Quando a mãe faleceu, alguma coisa quebrou entre nós, e não importava o que fizéssemos ou disséssemos, mudou. Um dia Matilda resolveu pedir o divórcio, eu me senti indeciso num primeiro momento, mas ao ponderar melhor achei por bem dar-lhe a liberdade. Talvez Matilda tenha mesmo se casado comigo para não me deixar sozinho. O que eu não contava, é que agora estava realmente sozinho.
Abrir o coração com Madalena e Marco foi dolorido: “fui sincero e Madalena finalmente me aceitou”.
Depois de tomar banho, desfazer as malas, Lindolfo pega o telefone de liga para os filhos.
A Toscana é Maravilhosa! E convida-os para o almoço no dia seguinte, sábado. Chamou também a faxineira, pois queria a casa brilhando para quando seu amor chegar.
Ao desligar o telefone Lindolfo sentia-se o homem mais feliz do mundo. Talvez não seja fácil arrumar isso, mas ele vai tentar. Seja lá ou cá, ou cá e lá... Lindolfo e Madalena finalmente vão se casar. 

#Guerreiraxue



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