DEIXA EU TE AMAR
— Conheci a Florinda há uns bons vinte anos e depois dela, a vida nunca mais foi igual para mim...
Veja que não foi um amor a primeira ou a segunda vista... Alias, nem sei quando comecei a gostar realmente dela. Demorei um bocado para me dar conta disso, sempre fui meio "tapado" sabe.
Na verdade, eu estava era de "olho" na sócia e irmã dela, ambas eram dona de um pequeno restaurante perto do mercado que eu gerenciava no bairro.
Linda era muito vistosa e elegante tinha boa conversa e um riso fácil. Já Florinda nem tanto, era séria e compenetrada.
O fato é que Linda não me levava muito a sério e muitas vezes acabava por me deixar sozinho no restaurante, e com quem? Com a Florinda... E Florinda por sua vez, só me dava atenção por pena, de ver a irmã se comportar de maneira tão desagradável para comigo. Risos...
O barman acenava positivamente quando convinha ou negativamente quando apropriado e continuava com seus afazeres...
O homem do balcão estava ali há horas bebendo e falando... Gaspar, o barman, servira-lhe um martíni seco e o sujeito estava fazia um tempão enrolando com aquele drink quase que intacto a sua frente. "Velhote esperto, sabe que para ficar tem que beber, e agora desatou a desabafar. Eu devia era ganhar um extra por ter meus ouvidos servindo de penico para este povo".
E o homem continuava...
Florinda falava de tudo que era interessante, só omitia sua própria história eu até que perguntava-lhe alguma coisa aqui outra ali, mas, ela era esquiva e sempre que podia, desviava o assunto e então, quem me contava mais sobre ela, era a própria Linda.
— Ela viveu com um cara que tinha muito dinheiro e tiveram dois filhos juntos, mas, um dia ele simplesmente vendeu todos os bens que tinha e se "mandou", deixando-a e os pequenos para trás. Eu ainda era uma estudante e minha irmã me pagava a minha faculdade na época sabe. Florinda perdeu a casa confortável, pois não tinha como custear um aluguel tão alto. Sem dinheiro e com sacrifício fomos reconstruindo nossas vidas, eu acabei meu curso de administração graças as comidinhas que Florinda vendia, e juntas fomos montando este pequeno negócio, aos poucos, as crianças cresceram e agora o mais velho, que é engenheiro civil, mora na Austrália e a Isabela faz intercambio no Canadá.
Está interessado na Florinda Homem? — Quase me engasguei de surpresa. — Claro que não, só estou curioso.
— É uma pena, pois queria muito que Florinda fosse feliz com alguém um dia.
Minha irmã é a melhor pessoa que conheço no mundo. Sabe que mesmo trabalhando muito no restaurante, ela faz voluntariado uma vez por semana num abrigo de moradores de rua? E de quinze em quinze dias ela sobe o morro para dar aulas de culinária para os moradores?
— Como é que vou saber, se ela nem diz nada?
— E penso que nem dirá...Risos... Florinda é como poucas, e poucos a verão como realmente ela é...
Eu fui conhecendo a Florinda então, e fiquei irremediavelmente apaixonado. Confesso que não foi fácil convencê-la para morarmos juntos, mas consegui!
Agora, tem uns seis meses que ela anda estranha e não consigo atinar o que seja. Vejo que ela não tem dormido direito e com frequência a pego com os olhos inchados... — Deve ser alguma coisa com os filhos. Diz o barman... — Também pensei, mas os meninos estão bem e recentemente nasceu uma bebezinha linda e prometeram vir para o Natal todos...
De tanto eu insistir, ela me contou ontem que reencontrou o seu ex marido, e que andava muito preocupada com sua saúde. Sei que ele foi importante na vida dela e que tem juntos os dois filhos, mas que diabo tinha que voltar agora?
Acabamos por discutir... E ela então me disse que hoje iríamos juntos vê-lo e eu ia entender o que se passava.
O barman que estava distraído, torna a dizer: — Está com medo de perdê-la é?
—Nem pensei nisso! — Pensou sim, admita. Quem ama é egoísta e individualista. E até quem não ama é.
Quieto, o homem deposita no balcão o pagamento do drink e mais a gorjeta, e se levanta para sair.
— Se você voltar amanhã, o drink será por minha conta. — Diz o barman.
— Por quê?
—Pura curiosidade, quero saber como isso termina. Risos...
No dia seguinte lá estava o cliente outra vez com outro Martini seco a sua frente.
— Fui ontem com ela ver o ex marido. E eu não sei como Florinda guardou esta história tanto tempo...
O barman tentava não parecer atento, então disfarçava ...
— Ele é morador de rua, o ex marido de minha Florinda é um morador de rua... Apareceu no abrigo tem coisa de seis meses, Florinda percebeu logo que ele estava doente, pois de primeiro momento nem a reconheceu. Mais um viciado miserável que perambula pelas ruas. Que merda de vida! Queria mesmo que o desgraçado estivesse bem e longe.
Nem os filhos sabiam de seu paradeiro, e agora teremos de contar-lhes pois o infeliz está morrendo, não bastasse o vício das drogas e álcool tem um câncer roendo-lhe o pâncreas.
— Bem, veja pelo lado bom, e existe o lado bom. — Diz o bartender
— Os filhos vão poder estar perto do pai em seus últimos momentos, as mágoas e ressentimentos por terem sido abandonados pelo pai vão “zerar,” o sujeito será perdoado e amparado com atenção e afeto e a Florinda não vai nem pensar em te largar. E com certeza ainda vai te amar muito mais por você apoiá-la nesta fase complicada.
Não somos os únicos a querer ser feliz na vida homem, pois se assim fosse ainda não conseguiríamos ser, pois além de nós, existe os outros e a estes também queremos bem e queremos que estejam bem.
Você e este "coitado" têm muita sorte, sabia? Por terem Florinda.
Há pessoas que não conseguem amar mais que a família, a sua mulher exercita as mais variadas formas de amor e são poucas os que tem esta capacidade.
Vai homem, bebe seu drink e vá cuidar da vida porque, você é que é feliz. Quem me dera um dia, eu venha a topar com uma Florinda em meus caminhos.
Veja que não foi um amor a primeira ou a segunda vista... Alias, nem sei quando comecei a gostar realmente dela. Demorei um bocado para me dar conta disso, sempre fui meio "tapado" sabe.
Na verdade, eu estava era de "olho" na sócia e irmã dela, ambas eram dona de um pequeno restaurante perto do mercado que eu gerenciava no bairro.
Linda era muito vistosa e elegante tinha boa conversa e um riso fácil. Já Florinda nem tanto, era séria e compenetrada.
O fato é que Linda não me levava muito a sério e muitas vezes acabava por me deixar sozinho no restaurante, e com quem? Com a Florinda... E Florinda por sua vez, só me dava atenção por pena, de ver a irmã se comportar de maneira tão desagradável para comigo. Risos...
O barman acenava positivamente quando convinha ou negativamente quando apropriado e continuava com seus afazeres...
O homem do balcão estava ali há horas bebendo e falando... Gaspar, o barman, servira-lhe um martíni seco e o sujeito estava fazia um tempão enrolando com aquele drink quase que intacto a sua frente. "Velhote esperto, sabe que para ficar tem que beber, e agora desatou a desabafar. Eu devia era ganhar um extra por ter meus ouvidos servindo de penico para este povo".
E o homem continuava...
Florinda falava de tudo que era interessante, só omitia sua própria história eu até que perguntava-lhe alguma coisa aqui outra ali, mas, ela era esquiva e sempre que podia, desviava o assunto e então, quem me contava mais sobre ela, era a própria Linda.
— Ela viveu com um cara que tinha muito dinheiro e tiveram dois filhos juntos, mas, um dia ele simplesmente vendeu todos os bens que tinha e se "mandou", deixando-a e os pequenos para trás. Eu ainda era uma estudante e minha irmã me pagava a minha faculdade na época sabe. Florinda perdeu a casa confortável, pois não tinha como custear um aluguel tão alto. Sem dinheiro e com sacrifício fomos reconstruindo nossas vidas, eu acabei meu curso de administração graças as comidinhas que Florinda vendia, e juntas fomos montando este pequeno negócio, aos poucos, as crianças cresceram e agora o mais velho, que é engenheiro civil, mora na Austrália e a Isabela faz intercambio no Canadá.
Está interessado na Florinda Homem? — Quase me engasguei de surpresa. — Claro que não, só estou curioso.
— É uma pena, pois queria muito que Florinda fosse feliz com alguém um dia.
Minha irmã é a melhor pessoa que conheço no mundo. Sabe que mesmo trabalhando muito no restaurante, ela faz voluntariado uma vez por semana num abrigo de moradores de rua? E de quinze em quinze dias ela sobe o morro para dar aulas de culinária para os moradores?
— Como é que vou saber, se ela nem diz nada?
— E penso que nem dirá...Risos... Florinda é como poucas, e poucos a verão como realmente ela é...
Eu fui conhecendo a Florinda então, e fiquei irremediavelmente apaixonado. Confesso que não foi fácil convencê-la para morarmos juntos, mas consegui!
Agora, tem uns seis meses que ela anda estranha e não consigo atinar o que seja. Vejo que ela não tem dormido direito e com frequência a pego com os olhos inchados... — Deve ser alguma coisa com os filhos. Diz o barman... — Também pensei, mas os meninos estão bem e recentemente nasceu uma bebezinha linda e prometeram vir para o Natal todos...
De tanto eu insistir, ela me contou ontem que reencontrou o seu ex marido, e que andava muito preocupada com sua saúde. Sei que ele foi importante na vida dela e que tem juntos os dois filhos, mas que diabo tinha que voltar agora?
Acabamos por discutir... E ela então me disse que hoje iríamos juntos vê-lo e eu ia entender o que se passava.
O barman que estava distraído, torna a dizer: — Está com medo de perdê-la é?
—Nem pensei nisso! — Pensou sim, admita. Quem ama é egoísta e individualista. E até quem não ama é.
Quieto, o homem deposita no balcão o pagamento do drink e mais a gorjeta, e se levanta para sair.
— Se você voltar amanhã, o drink será por minha conta. — Diz o barman.
— Por quê?
—Pura curiosidade, quero saber como isso termina. Risos...
No dia seguinte lá estava o cliente outra vez com outro Martini seco a sua frente.
— Fui ontem com ela ver o ex marido. E eu não sei como Florinda guardou esta história tanto tempo...
O barman tentava não parecer atento, então disfarçava ...
— Ele é morador de rua, o ex marido de minha Florinda é um morador de rua... Apareceu no abrigo tem coisa de seis meses, Florinda percebeu logo que ele estava doente, pois de primeiro momento nem a reconheceu. Mais um viciado miserável que perambula pelas ruas. Que merda de vida! Queria mesmo que o desgraçado estivesse bem e longe.
Nem os filhos sabiam de seu paradeiro, e agora teremos de contar-lhes pois o infeliz está morrendo, não bastasse o vício das drogas e álcool tem um câncer roendo-lhe o pâncreas.
— Bem, veja pelo lado bom, e existe o lado bom. — Diz o bartender
— Os filhos vão poder estar perto do pai em seus últimos momentos, as mágoas e ressentimentos por terem sido abandonados pelo pai vão “zerar,” o sujeito será perdoado e amparado com atenção e afeto e a Florinda não vai nem pensar em te largar. E com certeza ainda vai te amar muito mais por você apoiá-la nesta fase complicada.
Não somos os únicos a querer ser feliz na vida homem, pois se assim fosse ainda não conseguiríamos ser, pois além de nós, existe os outros e a estes também queremos bem e queremos que estejam bem.
Você e este "coitado" têm muita sorte, sabia? Por terem Florinda.
Há pessoas que não conseguem amar mais que a família, a sua mulher exercita as mais variadas formas de amor e são poucas os que tem esta capacidade.
Vai homem, bebe seu drink e vá cuidar da vida porque, você é que é feliz. Quem me dera um dia, eu venha a topar com uma Florinda em meus caminhos.
Guerreira Xue
De facto AMAR tem destas surpresas, por mais que neguemos certas pessoas que no passado foram importantes na nossa vida, ao ponto de haver filhos em comum, quando estas desgraças acontecem o coração fala mais alto, não é verdade? não é que eu tenha experiência deste assunto, mas também tenho noutos (quem os não tem?) talvez um dia DEUS me dê sabedoria e coragem para passar para o papel um grande mágoa que me ensombra a vida; bjs Hilda
ResponderExcluirTenho tentado conceituar o que é amar... mas, a cada dia que passa, vejo que a ação de amar foge ao enquadramento conceitual... histórias, como essa, mostram que amar é puramente doar-se, muito além de nosso pequeno ego... beijos Hilda
ResponderExcluirAdorei conhecer a Florinda... E amar é a coisa mais complexa, doce, amarga, divertida e eletrizante que existe.
ResponderExcluirBjuss amiga
De fato existem por aí muitas Florindas! Mulheres que trabalham arduamente para terem do que viver e sustentarem suas famílias... Mulheres que lutam por seus direitos e que pedem respeito à sua pessoa por terem escolhido seguir um caminho diferente do que lhes impuseram. Estas sim têm a minha admiração e total apoio! São elas que lutam, perseveram para conquistar seus sonhos e alcançar seus objetivos todos os dias para que sejam reconhecidas e aceitas pelo que são e o que podem fazer para melhorar o mundo à sua volta...
ExcluirJailma Silva