A RAPARIGA DO SUPERMERCADO
A Rapariga Do Supermercado-
Parte 1
Entrei na superfície comercial à pressa. As pessoas parece que gostam das compras ao fim- de- semana, quando há mais gente. Ficam eufóricas com o movimento frenético do aglomerado de gentes.
Apressado, dirigi-me depois de abastecer à pressa o cesto com o essencial para uma comida rápida. Mesmo na caixa rápida tive que esperar muito, pela minha vez para pagar.
Olhei para a rapariga que estava na caixa. Cabelos muito pretos e compridos. Uma cara angelical, com um rosto bem desenhado, metido entre uns olhos azuis cintilantes que quando olhavam, deixava qualquer um submisso ao seu encanto natural.
Percebi que a sua prática de trabalho na caixa não era muita, mas a sua simpatia substituía em muito a arte de bem-fazer. Tentei verificar se o seu corpo condizia com tanta beleza de cara, mas ela estava sentada e assim seria difícil satisfazer a minha imensa curiosidade. Como fazer que se levantasse da maldita cadeira. Quando me aproximei da minha vez de pagar, ela pegou nas minhas compras e foi passando o código de barras dos artigos e eu reparei que as suas mãos estavam cuidadas e eram também muito bonitas.
Guardei de propósito a lata de cerveja para o final e esta caiu das minhas mãos para o lado dela, quase caindo no seu colo. Ainda hoje não consegui explicar se foi de propósito. Quando a lata chegou aos seus pés, ela levantou-se para a poder apanhar. Foi aí que realmente a pude ver de forma integral.
_Desculpe… disse eu meio atrapalhado
_ oh!.. não tem importância…respondeu ela de forma simpática
_ Ainda não a bebi e já está a fazer efeito…disse eu a sorrir
Ela olhou para mim e riu-se mostrando uma dentadura branca e certa. Quando me deu o talão para pagar, ainda não tinha parado de sorrir. De facto não seria muito difícil qualquer um, ficar naquela caixa o resto do dia, tal era a beleza da rapariga. Imagino os piropos que os rapazes lhe mandavam.
Voltei mais vezes do que precisava aquele espaço comercial e sempre procurava a caixa onde ela estava. Sempre arranjava forma de dizer alguma coisa. Tenho a certeza que muitos faziam o mesmo que eu, mas então porque fazia eu o mesmo que os outros?
Cada vez que ia às compras e a via na caixa, tinha sempre a tentação de levar as minhas compras para lá. Já estava a ficar furioso comigo próprio.
Uma vez, ela ainda não me tinha visto já eu estava na sua fila e quando encarou comigo e apesar de ser muito morena, ficou vermelha e pouco à vontade com a minha presença.
Chamei-me estúpido a mim próprio. Estava-se mesmo a ver que eu já a andava a incomodar.
Decidi então, pôr um ponto final na minha ousadia. Afinal a rapariga estava a trabalhar. Pensei para mim que aquela seria a última vez que ali iria. Não era minha intenção transtornar a rapariga, a ponto de não a deixar fazer bem o seu trabalho. Quando chegou a minha vez, não havia ninguém atrás de mim para pagar, o que me deu algum conforto para a poder saudar pela última vez.
_Desculpa estar sempre a vir aqui à tua caixa…disse um pouco nervoso
_Não precisa pedir desculpa. Pode escolher a caixa que quiser
_ Confesso que venho aqui porque te acho a rapariga mais bonita que já alguma vez vi.
_Então é porque tem visto muito poucas na sua vida.
_olha hoje vou ter de pedir factura. Importas-te de pôr o teu número de telefone aí nas costas?
-Importo sim. Eu tenho namorado e estou a trabalhar.
_Desculpa…esquece o que disse
O meu nervosismo notava-se. As minhas mãos tremiam quando peguei na factura. Apressei-me a pegar nas compras e saí quase correndo. Como poderia eu ter sido tão ingénuo. Uma rapariga tão linda tinha forçosamente que ter namorado.
Mordi o lábio com remorsos de ter falado demais. Que estupidez a minha. Não precisava de sujeitar-me aquilo. Ainda bem que não estava mais ninguém na caixa, porque senão iria ser o bonito. Cheguei a casa e fugi para o meu quarto. Deixei as coisas na cozinha à minha mãe, que mais tarde me chamou:
_Daniel… já viste o que está aqui na factura que trouxeste do supermercado? Parece um número de telefone. Sabes de quem é?
Corri para a minha mãe para ver se de facto eu estava a sonhar. Não podia acreditar no que estava a ver. Era um número de telemóvel que estava escrito nas costas da factura. Só podia ser o número do telefone dela. Afinal fez aquele discurso, mas escreveu o seu número tal como eu pedira:
_ Obrigado mãe, sei de quem é…disse eu tirando o numero de telefone que marquei no meu telemóvel.
Na manhã seguinte enviei-lhe logo uma mensagem
“Obrigado por me teres dado o teu número de telefone”. “Nem reparei que o tinhas escrito”
Mais tarde recebi dela a sua primeira mensagem:
“Não era para escrever, mas como te achei um rapaz simpático aí o tens”.
“Sorte a minha. De facto nem esperava tanta gentileza. Olha queres marcar um encontro comigo?”
“Claro que sim”. “Onde queres te encontrar comigo?Pode ser amanhã na cafetaria que está em frente ao supermercado onde trabalho? Saio ás 16.00»
“Ok .Lá estarei à hora combinada.Mas se tens namorado aí será um sítio seguro?”
“Não te preocupes. Ele amanhã trabalha até mais tarde".
“Muito bem. Obrigado pelo convite. Até amanhã então”.
“Beijos”
Eu nem queria acreditar na sorte que me coubera. Ir ter com aquela linda rapariga parecia-me um sonho. Não é que goste muito de andar com raparigas comprometidas, mas enfim… também não poderia ser perfeito. Com uma mulher daquelas ao lado, qualquer um perde a cabeça.
No dia seguinte tomei banho e vesti uma roupa a estrear. Hoje valia a pena pôr um perfume israelita que são muito melhores do que os franceses. Com este perfume, até a Angelina Jolie ía atrás de mim.
Em pleno Junho, o gel com água molhada, daria um aspecto limpo e sedutor ao meu cabelo.
Calças de ganga pretas e uma tshirt preta com óculos escuros imitação de raiban, comprado no mercado dos meus amigos ciganos ,davam-me um ar extrovertido. Tudo pensado ao pormenor para aquele encontro casual,mas que poderia bem ser o encontro da minha vida.
Telefonei ao meu amigo Fernando da Opel, que me arranjou para essa tarde, o novo opel Ampera, um modelo que era o seu carro de serviço. Bem rapazes nem lhes conto.Só para controlar aquela «machine» toda elétrica com um ar agressivo e dinâmico, fiquei um bom bocado com ele a aprender.Prometi que andava só 2 horitas com ele e que um dia se arranjasse os 47.000 euros que custa a «machine» era a ele que compraria o «bruto carro». Claro que tive de lhe dizer que ia conhecer a mulher da minha vida.
Quando naquela tarde saí de casa, a minha mãe não me reconhecia. Olhou pela janela e viu o lindo carro desportivo preto onde eu me montei todo vaidoso. Ela ficou de boca aberta.
Conduzi o Opel Ampera com muito cuidado ,porque ele é extremamente silencioso e tinha de ter muita atenção aos peões, apesar de haver um sinal sonoro para esta causa, eu não estava para aprender a mexer naquela electrónica toda. Queria saber só o suficiente para me desenrascar no encontro. Curioso que cada vez que metia a mudança automática para frente ou para traz, o carro trancava logo as portas autenticamente. Fogo... que carro aquele.
Quando parei ao lado da cafetaria, senti que todos os olhares se movimentavam na minha direcção. Isto de fazer de rico tem a sua graça e na verdade eu sentia-me quase um Cristiano Ronaldo com todas as mulheres a virarem a cabeça para me verem passar. Com esta crise o carro dava nas vistas e eu que também sou jogador de futebol do Inatel, sentia-me como se jogasse no Real Madrid.
Quando me sentei na esplanada à espera daquela que possivelmente viria a ser a minha princesa, só estava uma rapariga a beber uma coca cola. Sentei-me por ali pois ainda faltavam uns cinco minutos para ela sair e nesse momento percebi que nem o seu nome eu sabia,nem idade nem onde vivia…nada de nada.Falta de cuidado da minha parte e falta de educação.Afinal saber um nome de uma pessoa, tem a sua vital importância.
A rapariga que estava na minha frente só estava a olhar para mim, o que começava a incomodar, pois não me levem a mal mas ela era digamos um bocado forte,para não dizer gorda e muito feita de cara. Não era propriamente a rapariga que um homem goste que olhem para ele,mas pensei que fosse talvez a minha beleza que ela estava a observar.Não é que eu me considerasse assim muito bonito,mas também haveria de ter algum encanto.Pelo menos nesse dia tinha-me esforçado por isso.
Quando o rapaz veio para perguntar o que queria beber eu disse:
_Estou à espera de uma pessoa, que deve estar a chegar.
Quando o rapaz voltou ao seu trabalho, olhei para a porta do supermercado na frente para ver sair a linda moça que me invadiu a alma. Acho que já estava apaixonado. Paixão à primeira vista. Pensei eu enquanto lhe escrevia uma mensagem.
“olha já estou sentado na esplanada à tua espera. Mesmo em frente ao supermercado como tu disseste”
“ Olha eu também já cá estou.Se olhares bem tu vês que eu estou sentada também junto de ti”
Olhei à minha volta. Fogo…onde que é ela estava metida que eu não a via.Enviei outra mensagem.
“Estás onde? Não te vejo em nenhum lado.”
“Olha bem.Tenho a certeza de que se olhares bem tu me vês”
Olhei mais uma vez à minha volta.Só estava aquela rapariga gorda e feia a olhar para mim agora a sorrir. Fonix…a não ser que…Espera aí…então ela fez-me isto?
Foi então que a rapariga gorducha me disse:
_ Tenho a certeza que és tu que vens para um encontro comigo. Só pode…não está aqui mais ninguém alem de ti.
_ Mas!…balbuciei eu meio atrapalhado…não eras tu que eu conheci.
_ Ai não …então quem mandou estas mensagens.Disse ela levantando-se e sentando-se na minha mesa. Eu não sabia era que eras tão bonito- disse ela passando a mão pelo meu cabelo cheio de gel.
_ Eh!...Espera aí_ disse eu retirando a sua mão de mim. Eu conheci uma rapariga ali naquele supermercado e não eras tu. Era uma rapariga diferente…assim menos…Bem desculpa.
_ Menos quê? Menos gorda não é? Pois fica sabendo que eu também trabalho ali nas caixas.Eu vi-te ali quase todos os dias a cheirar a minha amiga. Querias produto do bom não? E eu…repara bem em mim..Não me achas elegante? Vá dá-me lá um beijo ao menos.
Eu levantei-me e saí disparado dali para fora. Afinal a rapariga com ar angelical tinha-me dado o telefone da colega «gorducha«. Muito bem pensado e muito bem feito que é para eu aprender.
Esta história poderia muito bem continuar, mas a moral da história está dada. Fica à vontade de cada um imaginar o resto que aconteceu.
Manuel Maia
Há cotinuação deste conto no blog http://senta-te.blogspot.pt/
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