PRECONCEITOS, COMO SE PERPETUAM?
PRECONCEITOS, COMO SE PERPETUAM?
Moleque pobre, tangenciando a miséria, em subúrbio carioca, cresci de pés descalços e peito nu, correndo pelas ruas, em grupos, jogando futebol em campos improvisados, esmerando-me para que cada molecagem superasse a anterior, de maneira a compensar a santa surra de cada dia.
Conhecíamo-nos pelos nomes e até sobrenomes, já que juntos e misturados na escola também, mas raramente fazíamos uso deles, substituídos por apelidos, pseudônimos, alcunhas... O que melhor definisse cada um.
O de baixa estatura era o tampinha, cu de cobra, miúdo, baixinho, meio copo, cotoco...
O gorducho, uma festa: bolão, bolota, bolinha, baleia, foca, pastel (até hoje não sei porque)...
O alto: espanador (da lua), poste, gigante, girafa...
E os negros, que de tantos e de diferentes apelidos, para não serem confundidos, daria um livro: nego, negão, tição, tziu (um passarinho preto), bola sete, charuto, asfalto, apagou, picolé (de asfalto), jabuticaba, anu (outro pássaro preto), mico, miquinho, muçum (um peixe preto, que dá na lama), queimado, carvão...
E a cada gol nos abraçávamos, e íamos ao cinema juntos e juntos às festas, brigando todos juntos, contra grupo rivais, de outras ruas, e nos cotizávamos para comprar a bola ou reembolsar por vidraça quebrada, antes que fossem cobrar aos nossos pais.
Bulling? Não havia uma mídia carente de sociologismos importados nem uma faculdade de direito em cada esquina, fabricando bandos de advogados de prontidão, prontos para arrancar indenizações por danos morais, fosse por um puta que o pariu no trânsito ou um peido em público, como agora.
Gritávamos “chega aí charuto” e o amiguinho vinha, natural e rindo, como se tivesse ouvido João, Pedro ou José, respondendo “o que foi que houve, tampinha?”
Nossas namoradas? Avaliadas pelo mesmos critérios e recebendo os mesmos apelidos, e não era estranho o transparência (era albino) estar namorando uma negra, mais alta do que ele, ou eu estar apaixonadinho por uma gorducha, totalmente fora dos padrões atuais.
Por serem meninas eram todas igualmente cobiçadas.
Agora, se o meu filho chega em casa elogiando ou reclamando de um coleguinha, e o trata por charuto, eu imediatamente o corrijo, dizendo-o para não repetir isso.
Nesse momento, exatamente nesse momento, quando mostrei ao meu filho que ele e o coleguinha são diferentes, colaborei com o racismo.
Por trás do “politicamente correto” esconde-se a hipocrisia.
Quando me abrigam a chamar de afro descendente o negro, de comunidade a favela, de gay o viado (é assim que o homossexuais se tratam entre eles e os próximos, ainda que não homossexuais, e não se ofendem)... Estão fazendo comigo o que faço com o meu filho, ao não permitir que ele chame o seu melhor amigo de charuto.
E isso chega na política, quando, ao ser contra cotas para negros e pobres nas escolas e universidades, contra o Bolsa família, as bolsas de estudos... E reclamar do excessivo número de carros nos engarrafamentos, porque ficaram acessíveis aos pobres, ou das filas nos aeroportos, por causa do enorme aumento de demanda...
Estou sendo “politicamente correto”, hipocritamente mascarando o meu racismo, o preconceito social e o ódio de classe, ainda que contraditoriamente eu seja pobre, em atestado de que sou um alienado coxinha.
Francisco Costa
https://www.facebook.com/francicorcosta?fref=ts
Moleque pobre, tangenciando a miséria, em subúrbio carioca, cresci de pés descalços e peito nu, correndo pelas ruas, em grupos, jogando futebol em campos improvisados, esmerando-me para que cada molecagem superasse a anterior, de maneira a compensar a santa surra de cada dia.
Conhecíamo-nos pelos nomes e até sobrenomes, já que juntos e misturados na escola também, mas raramente fazíamos uso deles, substituídos por apelidos, pseudônimos, alcunhas... O que melhor definisse cada um.
O de baixa estatura era o tampinha, cu de cobra, miúdo, baixinho, meio copo, cotoco...
O gorducho, uma festa: bolão, bolota, bolinha, baleia, foca, pastel (até hoje não sei porque)...
O alto: espanador (da lua), poste, gigante, girafa...
E os negros, que de tantos e de diferentes apelidos, para não serem confundidos, daria um livro: nego, negão, tição, tziu (um passarinho preto), bola sete, charuto, asfalto, apagou, picolé (de asfalto), jabuticaba, anu (outro pássaro preto), mico, miquinho, muçum (um peixe preto, que dá na lama), queimado, carvão...
E a cada gol nos abraçávamos, e íamos ao cinema juntos e juntos às festas, brigando todos juntos, contra grupo rivais, de outras ruas, e nos cotizávamos para comprar a bola ou reembolsar por vidraça quebrada, antes que fossem cobrar aos nossos pais.
Bulling? Não havia uma mídia carente de sociologismos importados nem uma faculdade de direito em cada esquina, fabricando bandos de advogados de prontidão, prontos para arrancar indenizações por danos morais, fosse por um puta que o pariu no trânsito ou um peido em público, como agora.
Gritávamos “chega aí charuto” e o amiguinho vinha, natural e rindo, como se tivesse ouvido João, Pedro ou José, respondendo “o que foi que houve, tampinha?”
Nossas namoradas? Avaliadas pelo mesmos critérios e recebendo os mesmos apelidos, e não era estranho o transparência (era albino) estar namorando uma negra, mais alta do que ele, ou eu estar apaixonadinho por uma gorducha, totalmente fora dos padrões atuais.
Por serem meninas eram todas igualmente cobiçadas.
Agora, se o meu filho chega em casa elogiando ou reclamando de um coleguinha, e o trata por charuto, eu imediatamente o corrijo, dizendo-o para não repetir isso.
Nesse momento, exatamente nesse momento, quando mostrei ao meu filho que ele e o coleguinha são diferentes, colaborei com o racismo.
Por trás do “politicamente correto” esconde-se a hipocrisia.
Quando me abrigam a chamar de afro descendente o negro, de comunidade a favela, de gay o viado (é assim que o homossexuais se tratam entre eles e os próximos, ainda que não homossexuais, e não se ofendem)... Estão fazendo comigo o que faço com o meu filho, ao não permitir que ele chame o seu melhor amigo de charuto.
E isso chega na política, quando, ao ser contra cotas para negros e pobres nas escolas e universidades, contra o Bolsa família, as bolsas de estudos... E reclamar do excessivo número de carros nos engarrafamentos, porque ficaram acessíveis aos pobres, ou das filas nos aeroportos, por causa do enorme aumento de demanda...
Estou sendo “politicamente correto”, hipocritamente mascarando o meu racismo, o preconceito social e o ódio de classe, ainda que contraditoriamente eu seja pobre, em atestado de que sou um alienado coxinha.
Francisco Costa
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