JOGA PARA O UNIVERSO

Já te aconteceu de encontrar a mesma pessoa que te é completamente estranha, duas vezes em locais diferentes e por dois dias consecutivos? Não!
Isso parece conversa de pescador, certo? Não é mesmo! Tenha calma, que esclareço a situação.

Recentemente fomos ao RS para comemorar o aniversário de meu tio que fez 88 anos. Para ilustrar melhor o assunto adianto, somos gaúchos e vivemos em São Paulo tem algumas décadas. A filha dele, minha prima, resolveu homenageá-lo com uma grande reunião de família.

Tinha família de todo canto do País,  eram irmãos, cunhados, primos, sobrinhos, filhos, netos, bisneto enfim...  Um evento muito bonito mesmo, que ocorreu num sítio de outra sobrinha, em Lami, um bairro do extremo sul de Porto Alegre. E o tio não cabia em si de tão contente.

(O leitor há de pensar; essa família parece a do Pato Donald, cheia de tios e sobrinhas.)

Continuando…

Chegamos em Lami na sexta-feira, a festa aconteceu no sábado, e no domingo fomos almoçar num restaurante de uma escola de aviação ali perto.

No retorno para o sítio as primas quiseram parar no supermercado, para pegar um sorvete, pois estava um calor da cachorra esses dias. Meu tio e eu estávamos no banco de trás e ali ficamos com os vidros do carro abertos, para pegar um ventinho na cara.

Havia um carro estacionado do lado do nosso, até aí normal claro.
Estávamos de conversa, quando a porta do carro se abriu e desceu uma moça dizendo; preciso tomar uma cerveja para relaxar!

Não sei se ela percebeu que estávamos ali, se falou aquilo para ela mesma ou para o cosmo, o fato é que ela nos viu de relance e nós olhamos para ela e assentimos em concordância. Ela tentava, com a chave de controle, abrir o porta malas do carro. Na sequência o tio me sai com essa; o povo do sul é muito mais sociável que o de São Paulo, tu percebeu? Eu respondi logo; olha tio, como eu moro em São Paulo tem tanto tempo, acho que o povo de lá também é!
A moça escutou o que dissemos e falou; vocês são de São Paulo? Eu moro lá também. E começamos o diálogo.

Ela contou que tinha vindo as pressas para o velório do primo que era também afilhado. Estava com a aparência bem abalada, coitada. Insistia em abrir o porta malas para tirar a cerveja que acabara de comprar; estou com o carro emprestado de meu tio e o porta malas não quer abrir.
Quase desço do carro, para ajudá-la a abrir aquela coisa, até que ela consegue, pega a bendita e continuamos a conversa.

Contamos da festa do tio, que chegamos na sexta-feira e retornamos no dia seguinte. Ela perguntou onde nos hospedamos meu tio falou e ela foi contando que tinha a estrada Otaviano Jose pinto no Lami, cujo o nome era de seu bisavô. A primeira surpresa foi que, estávamos hospedados no sítio justamente nesta estrada.
Ela contou do primo , que era jovem ainda e que lutava contra o câncer desde muito antes da pandemia. Que tinha 40 violões tocando em sua homenagem. Mais de 400 pessoas no enterro. Agora estava tentando achar passagem, para voltar para casa e não conseguia...

No meio dessa conversa toda, as outras primas retornam com o sorvete e se depararam com a cena; uma estranha ao nosso lado no maior bate papo.
Explicamos a situação por alto e nos despedimos desejando um bom retorno para casa e que ela conseguisse sua passagem.
Já de volta ao sítio contamos mais detalhadamente como aconteceu aquela conversa inusitada. e elas questionaram; vocês sabem o nome dela? Pegaram contato?

Não, mas a gente sabe que ela mora na Pompeia. Risos... Isso virou a piada do dia; até onde se sabe, vocês estavam conversando com uma alma penada. Pensem, a mulher veio de um enterro! Fala com vocês do nada. risos... Qual a chance de vocês encontrá-la novamente? Uma em um milhão? Vai saber!
Nesse momento lembrei de uma sobrinha que me disse uma vez; tia joga para o universo.
Essa moça queria conversar, estava triste, e a gente estava ali naquele exato momento.

No dia seguinte tivemos um churrasquinho de despedida. Foi uma estadia bem agradável e com pessoas muito queridas. Fomos logo depois do almoço para o aeroporto. Como o nosso voo ainda ia demorar fomos tomar um café. A minha prima ia num voo separado. Adivinha quem estava no café? Sim! 
Ela estava ao telefone e interrompeu para dizer sorrindo; conversamos ontem no estacionamento do mercado! Não poderíamos estar mais surpresos. A alma penada voltou! Quando ela terminou a fala no celular veio e sentou-se conosco. Desta vez fiz questão de fazer o correto, nos apresentamos e ela também. Trocamos contatos e ainda conversamos muito mais. Viemos no mesmo voo para casa.

Ao pousar nos despedimos calorosamente e combinamos manter contato. Janaina é o nome dela.

Jogamos para o universo!

#guerreiraxue

Comentários

  1. Um exemplo brilhante! Sua postagem é perspicaz e apresentada de maneira eloquente. Agradeço por compartilhar sua valiosa perspectiva.

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