INDO ALÉM...


Quantas vezes nos perguntamos o que nos move? O que faz haver um sentido real em viver? Sonhos que começam e terminam e por vezes estes se realizam ou não...E tornando a recomeçar outros sonhos e reterminar.
Passamos a maior parte tempo da nossa preciosa vida perseguindo as "coisas" do que cultivando nossos reais e verdadeiros afetos. Mais importante que tudo, é ter aquela casa dos sonhos fazer a viagem dos sonhos... O carro da moda, a roupas caras, o sapato, o marido rico, a moça de "família". 
E porque somos sempre tão selvagens e insensíveis as dores alheia, e cientes de nossas fragilidades, vamos criando uma couraça colorida e de aparência jovial distorcida pelos cosméticos de última geração, nos dedicando de corpo e alma a nosso "eu" e vivendo de uma satisfação mais ou menos "plástica"...
Soledade era moça bonita e morava na capital desde seus treze anos com o irmão, mais velho, casado e seus quatro filhos e andava já na casa de seus dezesete anos e não aguentava mais os desmandos da cunhada que só fazia cobrar por sua estadia com serviços domésticos e que cuidasse dos quatro sobrinhos pequenos.
A mãe da moça fora convencida de que na capital, Soledade e seus outros dois irmão menores, teriam melhores oportunidades de estudo e inclusão social. Os dois menores foram morar com um outro irmão recém-casado e que não tinha ainda filhos. E ambos levaram os três a morar na cidade grande onde seriam tratados como filhos (mas eram irmãos). A vida mudara completamente tomando um outro contorno, a escola era estranha, tinham roupas boas e os brinquedos apareciam como mágica, é claro que os modos teriam que mudar também.
A cobrança eram forte e acirrada agora, pois eles vinham de uma pobreza extrema para uma casa confortável e com carro a disposição na porta.
Dizem sempre, que nada dura para sempre... Penso que somos nós, que não duramos, e que nossa inconstância nos faz perder muita coisa neste percurso, e é sem querer, porque logo depois andamos de novo, em busca daquilo que ficou lá atrás, e a vida vai seguindo em sucessiva repetição, enfim...

A situação realmente ficou insustentável quando Soledade foi pega fumando, a moça tomou uma surra da destemperada esposa do irmão, que foi obrigada a comer os cigarros e ainda foi expulsa de casa.
-Volte para o buraco de onde voce nunca devia ter saído sua ingrata, voce tem mesmo é que passar fome.
Quando pensamos que sabemos tudo e tentamos mudar "a força" o destino, parece que o fracasso se reforça ainda mais...E assim foi.
Soledade ainda tentou ficar com outra irmã, mais pobre e mais simples, que tinha mas como não gostava de trabalhar ou estudar, o que acabou por culminar com seu retorno a casa da mãe.
Logo em seguida os irmãos mais novos também retornaram a casa que também já não existia, pois os pais haviam se separado. Dizer que fizeram bom uso do que aprenderam eu não sei, mas a vida foi seguindo e como a mãe e o pai deles não estavam mais juntos então ambos se viravam do jeito que podiam, porque retornar a capital não poderiam até darem "valor" e fosse como fosse, era para continuarem os estudos, mas não continuaram
Dos irmãos de Soledade um virou traficante e a outra coitada sofre muito tentando achar um amor que a supra de suas necessidades, afeto e finanças, pois sem estudo e com filhos pequenos fica ainda mais difícil, pois trabalho remunerado exige compromisso e instrução.
Alguns anos depois encontrei Soledade grávida, estava com um marido preso por crime de furto e assassinato, tinha dois filhos pequenos e ela contraíra AIDS, do qual o marido mesmo a contaminara e tudo isso antes de chegar aos vinte cinco anos...Uma tristeza de ver.
Ai Soledade ...Esta é a cara da vida besta e comum de quem não tem sorte.
Quantas Soledades existem no mundo?


"Mesmo que choremos com todas as desgraças do mundo, o lado mais negro da vida ainda esconde algumas raras flores noturna, flores estas que num reflexo da luz da lua, ainda conseguimos vislumbrar a maldita esperança. Era tão mais fácil sucumbir e terminar com tudo...Mas ela vem trazendo o sol , aquecendo  a pele, fazendo-nos sentir uma brisa leve e espanta nossas lágrimas num quase sem querer " ...
#Guerreiraxue

 Imagem de @ntonio F@zendeiro

Comentários

  1. ORA ATÉ QUE ENFIM QUE JÁ CONSIGUI LER ESTE LINDISSIMO CONTO "INDO ALÉM". DE FACTO NÓS TEMOS ESSE PÉSSIMO DEFEITO DE PENSAR-MOS MUITO EM NÓS E POUCOS NOS OUTROS, POR VEZES ATÉ NOS ESQUECE-MOS QUE OS OUTROS TAMBÉM TÊM DORES...DE FACTO DEVIA-MOS ESTAR MAIS ATENTOS ÀS SOLEDADES DO NOSSO MUNDO QUE POR MAIS QUE FAÇAM E TENTEM FAZER NUNCA SAIEM DA CEPA TORTA COM OU SEM MAQUILHAGEM, COM OU SEM ROUPAS E CARROS DE MARCA... ENFIM AS VIDAS PARA ESSAS PESSOAS NUNCA PASSAM DO SONHO À REALIDADE!!!

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  2. Olha, amiguinha,
    Desconheço se o que publicaste é ficção, ou relato de vivências por ti conhecidas. O que dizer?
    Francamente que tenho muita dificuldade em comentar. Estórias destas mexem comigo, e limitam-me quase ao ponto de uma total inibição. Contudo lá vai: esta sociedade é uma puta fomentadora de situações iguais às que descreves, e só uma revolução nas mentalidades, poderão alterar comportamentos que nos levem a ser mais felizes. Não devo dizer-te mais cara amiga, porque a dizer-te, seria um caudal de revolta e um libelo acusatório.
    Se me permites, aproveito este teu espaço, para dar-te um exemplo, e este não é ficção, porque meu conhecido, do que esta sociedade também fomenta e que destrói a vida de muitos jovens. Assim:

    "POBRE PUTA

    Fora bela a pobre puta,
    e também centro d'evento,
    hoje, cantinho disputa,
    p'ra sua enxerga ao relento.

    Outrora vinda da Beira,
    com mão cheia d'ambições,
    e porque ingénua, a brejeira,
    era um brotar d'ilusões.

    Chegada à terra do sonho,
    Lisboa, a chula, sorriu,
    matreira, olhar risonho,
    a prendeu e seduziu.

    E fez dela manequim,
    e corista de revista,
    dotando-a de camarim,
    como se fora uma artista.

    Por adules induzida,
    finas formas de cortejos,
    foi p'la chula pervertida,
    alimentou seus desejos.

    Muitos anos decorridos,
    findo o filão p'rá chulice,
    mergulhou em desvalidos,
    pagou preço da velhice.

    Pobre puta, velha puta...

    Amiguinha, não me vou sem dizer-te que estás uma verdadeira artista, na arte de contar.
    Mil abraços.

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  3. E eu só hoje com calma, li e reli este conto... Ou será relatos de vidas? Dizem "Não há conte onde não se acrescente um ponto" mas outros haverá que a realidade supera a ficção.
    Aqui está o retrato de vidas que se passam ao nosso lado, nunca achamos que é tanto assim porque nos recusamos a olhar, é mais comodo, não sair da nossa zona de conforto, e confrontarmo-nos com as "Soledades" que por aí deambulam cruzando caminhos.
    Luisa Pacheco

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  4. Sonho* é material "determinante”.
    Sonhar é o querer legitimo...incorpora uma vontade realizadora
    Comanda a vida sim, apesar de se liquefazer sem se perceber...

    Ai Soledade Soledade

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  5. Procuro me agarrar a espiritualidade para poder entender histórias como essa... pois se não houvesse eu um entendimento espiritual, ficaria completamente desesperançado da vida... são muitas as histórias parecidas com a que você conta aqui... e, acreditando em um poder superior, acho que vamos evoluir socialmente, a um ponto, que conseguiremos nos amar verdadeiramente... beijos para você Guerreira...

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