AMOR DE ALÉM MAR/ continuação de Era Uma Vez no México

Ao entrar em casa, Lindolfo é recebido com festa pelo cãozinho tic-tac, que só sossega depois de ganhar sua ração diária.
Ambos tinham a vida em comum rotineira, que começava cedo com uma caminhada pela praia, uma parada para no café do Manuel, para o desjejum e passar os olhos pelas notícias locais e do mundo, ir até a quitanda escolher algumas frutas e saladas para o almoço, e finalmente tornar ao Lar.
Depois do almoço tic-tac se recolhe a sua cama que fica na biblioteca onde seu dono assiste TV, ou Le um livro, ou escuta música.
Lindolfo está inquieto hoje, dormira muito pouco, não conseguira conciliar no sono, tivera pesadelos. Mas preferia não dormir de dia, pois de noite poderia incorrer a insônia novamente.
Na busca de um livro para distrair-se, cai-lhe nas mãos “Libertad bajo palabra” do autor mexicano Octávio Paz. A dedicatória estampada na folha de rosto faz seu pensamento flutuar.
“Para ti, Lindolfo meu amor, uma lembrança de nosso primeiro encontro, e quando pensares que esqueceu o que um dia sentimos um pelo outro, leia o nosso poema, na página 49”. Ao folhear até a dita, as lembranças afloram como se ele estivesse vivendo tudo novamente.

TUS OJOS
Tus ojos son la patria del relámpago y de la lágrima,
silencio que habla,
tempestades sin viento, mar sin olas,
pájaros presos, doradas fieras adormecidas,
topacios impíos como la verdad,
otoño en un claro del bosque en donde la luz canta en el hombro
de un árbol y son pájaros todas las hojas,
playa que la mañana encuentra constelada de ojos,
cesta de frutos de fuego,
mentira que alimenta,
espejos de este mundo, puertas del más allá,
pulsación tranquila del mar a mediodía,
absoluto que parpadea,
páramo.

— Madalena. — Ao pronunciar o nome dela em voz alta, a garganta falhou e os olhos transbordaram.
Lindolfo acalmou-se e leu o livro inteiro, coisa que nunca havia feito antes. “A única lembrança que restara dela”. Na última página, porém, continha um envelope com uma foto dos dois e pequeno texto escrito, onde dizia seu nome completo, e de seus pais, tamném um endereço na Itália. “para o caso de resolveres, um dia, me visitar”. Ao contemplar a imagem dos dois felizes o antigo amor pareceu rasgar seu coração. Madalena dizia que sua família produzia vinhos, um dos melhores da região, havia tinha três gerações, portanto seria muito fácil encontrá-la. Era só querer.
Lindolfo era divorciado agora, tinha os dois filhos casados e netos. Estava sem esposa já tinha mais de cinco anos. Ficou a pensar, na possibilidade de reencontrar Madalena. Será que a encontraria? Será que o receberia?
Levantou-se para esticar as pernas, guardou o livro e ligou para uma agencia de viagens pedindo informações. Ao desligar estava decidido, ia encontrar Madalena na Itália. A passagem estava marcada e agora não tinha mais volta ou arrependimento. “E se eu não a achar? Deixe de ser covarde homem”!
Embalado pelas expectativas, Lindolfo deitou-se e dormiu sorrindo.
Talvez o passado e o presente encontrem-se, talvez seja ilusão. Só se sabe se viver, então veremos.

#Guerreiraxue



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