AS DIVORCIADAS2

Nem todo os casais tem um divórcio amigável ,ou litigioso. Há quem diga que a separação deva ser uma atitude madura e consciente, ou seja, não deve ser tomada no calor de uma discussão. Mas relações conturbadas em geral, tem poucos os momentos de de diálogo pacífico.

Ana Q.
Eu me casei jovem e pela razão que gostava muito do meu namorado, e porque logo fiquei grávida também ,e porque queria muito ter uma família.
As vezes pensamos que o amor basta para solucionar todas as nossas carências, e que o companheiro será o amante amigo para todas as horas, e que ao constituir família seremos imediatamente promovidos a adultos e sensatos. O engano está em não prever as carências do outro.
Como alguém pode amar quando sequer conhece o senso do respeito?
A frustração do meu marido era tão evidente que logo ficou muito clara para mim. Nós casamos em um ano, de namoro e noivado, e o primeiro filho veio e a seguir, depois de 3 anos de casados, o segundo.
Fomos adaptando aqui e ali e então o centro de nossas atenções eram os filhos. Passamos por muitas fases, e nessa época específica ele me ligava todos os dias, isso porque em casa era um mutismo só, para perguntar dos filhos. Se tomaram café, se foram a escola, se estavam em casa, fizeram a lição, etc etc...
Eu fui me tornando uma paisagem sem vontade própria. Eu tentava conversar sobre algo diferente, outros assuntos mas em geral acabava por esbarrar em diferenças de opinião, o que dificultava mais a relação, mas então o assunto morria e voltávamos ao mesmo.

Ele vivia cansado, trabalhava demais, era bom demais, etc, etc...Vivemos por décadas juntos, e só desisti quando percebi que não conseguia mais ajudar. Eu nunca o faria feliz, alias, nem eu era feliz.

Muitas eram as vezes que eu chorava, me sentia uma inútil por tudo. E as palavras ásperas eram trocadas sem a menor cerimonia. Eramos pobres e tínhamos que estar juntos para ajudar os filhos a crescerem, e continuamos. Ele se comportava como vítima o tempo todo, então era eu a culpada de tudo. E sentia-me culpada por ele dizer que eu era. Então fui me recolhendo, me refugiando em pequenas porções de alegria. Um dia o meu marido percebeu que eu andava contente, e sentiu-se ultrajado por tal constatação. Como eu podia ser feliz se nem sequer saia de casa, se ele não estava?
Lembro da primeira vez que pedi-lhe o divórcio. Telefonei e disse simplesmente. Ele ficou estarrecido. De noite ao chegar em casa queria conversar... Agora queria conversar! E conversamos... Me disse que desse-lhe uma oportunidade, que ia mudar. Aquilo me deu uma esperança. Que boba! A mudança durou 15 dias, e o que veio a seguir foram mais acusações.
O divórcio propriamente dito era uma realidade que não queríamos admitir e a iniciativa de oficializar a separação partiu de mim portanto, eu continuo a culpada.
O ser humano é construído paulatinamente por uma história que vem sendo escrita na sua própria carne, desde o nascimento.
Guerreira Xue



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