SOLIDÃO

— O que é o futuro papai? — O pai pensa um pouco.— O futuro é um resultado do presente. — Neste momento, a pandemia está atrasando o futuro? — O presente está em transição agora, acho que precisamos repensar porque, do jeito que estava não poderíamos mais continuar. — E de que jeito estava papai? — Deste, com pessoas gananciosas, querendo cada vez mais, com fome de poder, usurpando e explorando os mais carentes... 
E essa foi uma de nossas últimas conversas. O meu filho e eu contraímos o covid no ano passado, e ele não sobreviveu. Ainda fiquei na dúvida sobre o futuro. Porque ele, o meu filho era o meu futuro.
Talvez o futuro não exista, e seja só uma projeção indefinida, matematicamente falando. Eu não queria que meu filho tivesse morrido antes de mim. Meus projetos principais eram todos voltados para o jovem que me sucederia no nome e na vida. Diria eu que me senti lesado de maneira irreparável, pelo destino? Não sei! Talvez, porque não existem certezas quanto ao futuro, e mesmo assim investimos insistentemente nele. É como se fosse uma aposta. Se por alguma razão der errado, o mundo todo desaba sobre nossas cabeças. E recomeçar é um trabalho árduo.
Tenho sofrido muito com a ausência de meu filho. Me arrependo de ter trabalhado tanto e não ter ficado mais com ele, se imaginasse que o perderia tão cedo. Agora, não penso mais tanto no futuro, e tento desesperadamente agarrar-me em algum novo objetivo para me manter vivendo neste presente inesperado.
Me sinto solidário para com as pessoas que, na mesma situação, perderam repentinamente os seus entes, nos jovens que tiveram sua vida interrompida bruscamente, e nos idosos que estão isolados em quase dois anos de confinamento.
O futuro meu filho? Era a minha esperança e o presente, por enquanto, é a solidão.

#Guerreiraxue



   

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