SESSENTA E SEIS ELOS

A velha conversava com a bisneta e sua boneca.
_Minha princesa, o começo começa em nós mesmos e, porque você contará a tua boneca algo que possa interessar, é melhor falar sobre o que veio antes dela, antes de você, ante de sua mãe e antes mesmo de mim.
_E o que havia antes de todos nós bisa?
_Havia nós mesmos, no entanto em outras histórias, bastante diferentes mas quase iguais. Veja por este ponto:uma panela de barro cozinha o peixe, o arroz, o feijão e e nela que também fazemos o chocolate não é? Então, ao longo dos tempos uma mesma panela cozinhou muitas histórias, cada uma diferente, porém muito parecidas, como tantas receitas que comemos aqui e ali.
_Entendi! Bisa, este dente aqui está mole.
_Pare de mexer nele. Deixe que ele caia sozinho e, então nós o enterramos junto com alguma semente de árvore frutífera e pediremos que nasça outro mais forte e bem bonito em seu lugar.
_Ta bom. Conta da panela de histórias. Tô ficando com fome.
A bisa Lou riu-se longamente antes de prosseguir.
Eu nasci aqui mesmo, nesta casa, na minha cama. Ela era da minha avó e é lá que eu durmo até hoje. Foi meu babatunde e depois que eu for embora, vai ter outro babatunde para eu voltar, quem sabe como tua neta ou neto. Faz muito tempo, noventa anos.

… trecho do livro SESSENTA E SEIS ELOS
de Luiz Eduardo de Carvalho
 

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