A CARTA

Hoje pensei em te escrever, e ao pensar já estou transcrevendo. É difícil encontrar as palavras para manifestar meus sentimentos para com você. As vezes penso em correr e bater na sua porta, só para perguntar como vai você, ou simplesmente dizer olá, como foi seu dia?
Ensaio muito qualquer princípio de diálogo entre nós dois, mas o fato é que me falta coragem. Acho que não tenho grande remédio para isso, devo ser daquelas que passam a vida de amores platônicos e a distância.
O meu gato morreu e eu fiquei muito triste, e quando nos vimos na semana passada voce me perguntou porque eu estava abatida, lembra? Depois de te contar o sucedido, voce me disse palavras gentis, e fiquei tão leve, tanto que passei o resto do dia com a sensação de conforto na alma.
  Eu sei tudo sobre voce. Sei o que voce come, porque sou eu que cozinho para voce. Sei o que veste porque sou quem lava e passa as suas roupas. Sou eu quem limpa a sua casa, engraxo seus sapatos, e por que? Eu sou a sua diarista meu amor.
Ao mesmo tempo que transcrevo essa mensagem, já penso logo em rasgar a missiva e jogar no lixo. Pode me chamar de covarde, talvez até eu seja, mas o que não quero é perder voce totalmente. Por que? Simples as faxineiras podem até criar doutores, mas elas não namoram com eles.

Guerreira Xue






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