ECO DO PASSADO

"Há um choro contido nas lembranças que afloram 
Essas são imagens de vidas sofridas 
De sonhos perdidos de outrora
Bem que podia esquecer, mas era comigo e assim sendo
Não consigo.
O Homem que bate, a mulher que chora
A porta que se fecha
E uma ausência que fica na memória
Através do tempo que foi embora."

Ana e Carem eram irmãs de mães diferentes Nascidas no interior elas tinham uma vidinha simples. O pai era natural do lugar e a família toda morava perto. A diferença de idade era de pouco mais de um ano entre ambas, Ana era a mais velha. Quando sua mãe foi embora, a mãe da Carem tornou-se a nova dona da casa e mal as pequenas sabiam o que as esperava. O pai ficava quase sempre ausente e de repente uma jovem mulher, que já tinha três filhos, se viu com mais quatro para cuidar.
Mais complicado não poderia ser, os irmãos mais velhos eram homens e fugiam dos serviços domésticos fácil, correndo para o campo e só retornavam na hora da comida. Então restavam as meninas maiores, buscar a lenha, recolher os ovos, tratar as galinhas, buscar temperos na horta. Quando os meninos voltavam para casa era um deus nos acuda, era cada surra de apavorar. — Deixe o passado onde está mulher— pensava Ana— o que passou não existe mais.
Ana ia de caminho para a cidade natal agora, pois a única tia por parte de pai estava muito doente pediu para ir visita-la. Ela falava muito pouco com a tia joana, mas não havia como negar-lhe o pedido. O receio de voltar quase a fez mudar de ideia, mas talvez fosse bom, era uma oportunidade de exorcizar alguns traumas.  
A viagem levaria mais de 22 horas de ônibus então, durante o trajeto não havia como não relembrar a infância. — É estranho como os fatos mais marcantes e tristes da infância conseguem suplantar os mais bonitos e singelos. Gostávamos muito das brincadeiras de roda, dos banhos de açude, do esconde esconde, da corrida com os potros. Fazer desenhos no chão era demais, deitar sobre a grama e apreciar as nuvens com os seus malucos desenhos de algodão. Observar as formigas, a Carem era fascinada pelas formigas. 
Depois que o pai de Ana morreu separaram-se, seus irmãos foram cada um para um canto. e não mais os reviu por 40 anos. Ao pensar nisso os seus olhos transbordaram — que pena. Será que Carem vive ainda lá? É difícil voltar as origens depois de tanto tempo. — Seus pensamentos são interrompidos pelo motorista que abre a porta anunciando o fim da viagem. Enxugando as lágrimas Ana disfarça, e juntando sua mala, apruma-se e desce. — Seja o que Deus quiser!

#Guerreiraxue

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