ARACY GUIMARÃES ROSA /Justa entre as Nações

Aracy Guimarães Rosa (1908-2011) foi a segunda esposa do diplomata e escritor Guimarães Rosa. Funcionária do Itamaraty em Hamburgo ajudou inúmeros judeus a fugir do nazismo. Conhecida como “Anjo de Hamburgo”, foi homenageada nos museus do Holocausto de Jerusalém e de Washington.
Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa nasceu em Rio Negro, Paraná, o dia 5 de dezembro de 1908. Filha de pai brasileiro e mãe alemã, ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930, casou-se com o alemão Johann Eduard Ludwig Tess, de quem se separou cinco anos depois. Vítima do estigma que marcavam as mulheres separadas, destemida, poliglota e culta, embarcou com o filho de cinco anos em um navio rumo à Alemanha. Instalada na casa de uma tia, passou privações.
Fluente em português, alemão, inglês e francês, em 1936 encontrou trabalho no Itamarati, como chefe da seção de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo. Enquanto se adaptava ao país, assistiu a expulsão dos judeus do funcionalismo público, testemunhou seu banimento das escolas e das universidades e os viu perderem seus direitos e propriedades.
Desafiando o antissemitismo encampado nos bastidores do governo de Getúlio Vargas, que restringiu a entrada de judeus no Brasil, foi responsável pela concessão de vistos em Hamburgo, Aracy passou a omitir dos superiores qualquer informação que identificasse um requerente como judeu. Mesmo correndo sérios riscos se fosse descoberta, ajudou incontáveis famílias de judeus a escapar da morte nos campos de concentração de Adolf Hitler.
Em 1938 Aracy de Carvalho conheceu Guimarães Rosa, que depois se tornaria um dos maiores escritores brasileiros, e havia sido transferido para Hamburgo. Ela se apaixonou por ele, mesmo sabendo da transgressão da chefe da seção de passaporte, lhe deu total apoio. Aracy e Guimarães Rosa foram investigados pelas autoridades do Brasil e da Alemanha.
Em 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e aliou-se aos Estados Unidos, à Inglaterra e à União Soviética, contra Hitler, o casal foi mantido por 100 dias em um hotel, em poder da Gestapo, até se estabelecer a troca de diplomatas entre os dois países.
De volta ao Brasil, como eram desquitados, só oficializaram a união na Embaixada do México, no Rio de Janeiro, em 1947. O romancista dedicou-lhe “Grande Sertão: Veredas” (1956), obra central na moderna literatura brasileira.
Em 1982, Aracy Guimarães Rosa foi laureada com a mais alta honraria para os “não judeus” que se arriscaram para proteger vítimas do Holocausto – foi declarada “Justa entre as Nações”, pelo governo de Israel. Recebeu homenagens também no Museu do Holocausto de Washington e Jerusalém.

Aracy viveu 102 anos, sobrevivendo ao marido por 44. Deixou o filho, quatro netos e oito bisnetos. No Instituto de Estudos Brasileiros, da USP, há 21 caixas com mais de 5.700 itens que ajudam a contar a sua história. Nas prateleiras em frente às suas, os pertences de Guimarães Rosa. O corredor é chamado de “felizes para sempre”. Já no fim da vida, ao ser questionada sobre as razões que a levaram a arriscar a própria vida para salvar outras, ela respondeu: “Porque era justo”.


Aventuras na História · Aracy Guimarães Rosa: A mulher que foi contra Vargas e ajudou judeus a fugirem da guerra (uol.com.br)
Aracy de Carvalho Guimarães Rosa – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

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