O PROPÓSITO


Cheguei cedo na estação, morro de medo de perder um voo, a saber, demoro mais tempo para chegar a Guarulhos do que a viagem de avião de São Paulo até Porto Alegre.
Então paciência… Não podia usar o celular, porque corria o risco de distrair e ficar sem bateria. Ler então, nem pensar! Não sei se todos que escrevem são doidos assim, eu sou, pois queria muito escrever. Ainda bem que sempre trago o meu caderninho.
O mais estranho é não ter ideia do que escrever mas, é começar e a coisa flui naturalmente.

Começo descrevendo o cenário em volta. Pessoas que também estão indo para algum lugar. Elas não esperam somente, a maioria está ao celular falando com alguém ou só vendo posts mesmo.
Tem uma senhora, do meu lado, lendo a Bíblia e orando. Mais adiante um estudante de colégio militar tomando um milk shake despreocupadamente. Sem contar as meninas que fazem programas diariamente na estação da luz. E o dia está especialmente bonito hoje

Quando a senhorinha parou com suas rezas, guardou a Bíblia, eu espirrei e essa foi a deixa, começou a me falar. Perguntou-me de onde eu era, para onde eu ia… Conversamos por um bom tempo. Ela contou que morava em Guarulhos, era viúva, tinha 8 filho e uns 20 netos… mostrou as fotografias dos filhos todos.
O trem veio e ela me pediu para sentarmos juntas, pois queria que eu adicionasse uma pessoa no seu WhatsApp.

Ontem redigi um pequeno TCC sobre plano de carreira para mim. Não esperava que conseguisse, pois nunca me imaginei uma mulher de carreira, mas tudo bem, agora imagino-me uma historiadora.
Me distraio fácil, porém, não com qualquer coisa. Penso que a vida é assim, só temos que escolher com o que nos distrair.

Me lembrei de ver se minha vizinha, a Solange, me respondeu a mensagem. Nem visualizou, achei muito estranho, pois ela sempre responde no mesmo dia, agora já tinha 4 dias e nada. Mandei mensagem para seu marido. Ele disse que ela estava hospitalizada já tinha 10 dias. Ela vem lutando com um câncer já tem alguns anos. Que pena! Desejei melhoras e falei que na próxima terça-feira eu iria visitá-la.
Assim como Solange, tem muita gente travando suas batalhas com essa doença triste.
Quando terminei de falar com o marido, e falei dela com minha mais nova amiga, Maria era seu nome. O trem chegou a nosso destino e ela me disse para escrever o nome de minha vizinha num papel, porque ia orar por ela naquela noite. Não me fiz de rogada, sentamos na plataforma, e coloquei o nome de Solange e do marido, dos meus filhos e da família toda. Se bem não fizesse, mal também não faria.
Era sexta-feira eu só retornaria para casa na segunda-feira a noite.
Ao me despedir de Maria, trocamos telefones e cada uma seguiu sua vida.
Peguei meu voo em paz e fui para o RS. Meu irmão e sobrinho me receberam, mais tarde minha filha e meu genro me buscaram. Foi uma noite agradável em família.

De manhã recebo a notícia, o marido de Solange avisou que ela faleceu. Aquilo me deixou muito triste!

Foi um fim de semana com minha família gaúcha, pois minha filha casa em breve. Estou muito feliz por ela estar feliz.
Às vezes é muito difícil o compreender nosso propósito na vida. Parecemos saber, mas não sabemos.

Guerreira Xue

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