VIVER OU MORRER... EIS A QUESTÃO

Era ainda cedinho e Carlos se preparava para mais um dia de trabalho na lavoura e já ia virar a chave do trator quando, apura seus ouvidos e escuta umas batidas de latas, mais um pouco e grita para a mulher.
— Ivone corre aqui, acho que aconteceu alguma coisa na casa de Dona Joana. — E sem esperar resposta ele corre para o vizinho que fica quase meio quilometro de distância atravessando pelas cercas, mais perto que se fosse pela estrada. Ao chegar ele vê seu Juca do lado de fora da casa, com uma panela na mão batendo muito e murmurando um pedido de ajuda. — Deu seu Juca. 
— Diz retirando a panela de suas mãos. — Que houve? — Minha Joana está morrendo Carlos...
Antes mesmo dele entrar pela porta, seu trator encosta com um carroção e Ivone que estava ao volante pula logo e corre para dentro da velha casa.
—Vamos leva-la para o hospital seu Juca, fique calmo que vai correr bem.
Durante o trajeto o velho consola a esposa, que esgotada já nem ouvia mais, tal era a dor que sentia.
Já no hospital. — Apendicite, vamos operar. — Disse o médico.
Carlos ficou ali na sala de espera com seu velho amigo. O Juca tremia tanto que não sabia se era nervoso ou pelo exercício que fizera ao levantar da cama.
— Fostes bem corajoso hoje meu amigo, conseguiu se levantar e graças a isso salvou Dona Joana do pior. — Tenho sido um perfeito idiota isso sim. — Disse o velho emocionado. — Ela foi minha companheira e amiga durante tantos anos. Mesmo quando eu merecia que me largasse, ela não desistiu nunca. — Não diga isso seu Juca, o senhor ficou doente por muito tempo. Ela não tinha muita opção e acho que mesmo que tivesse, faria da mesma forma. — Eu desisti da vida Carlos, fui injusto, abandonei-a, e ela foi vivendo por mim. Sabes o que é ter alguém que abre a tua janela todos os dias, mostra o sol, um café quente, um naco de pão e um beijo na testa antes de sair para a lida? E quando voltava no fim do dia, ela estava cansada claro, e caladinha fazia o serviços da casa, me dava banho, servia o jantar. Tinha dias que eu tinha raiva de sua energia, de sua vontade ferrenha de viver. Queria ficar em paz, morrer em paz, mas ela não deixava, era suave demais para comigo. E sempre me dizia boa noite com aquela voz doce. — E as lágrimas jorravam pela face enrugada... — Que tolo fui! — Ela vai ficar boa seu Juca, só fica uns dias somente e depois volta para casa.
Engraçado com alguns acontecimentos podem mudar completamente o rumo das vidas. Juca foi para casa e com muito esforço fez almoço, arrumou a casa, tomou seu banho e colheu flores no jardim da casa, para levar para a sua amada querida.
A surpresa de Joana não podia ser maior...Vê-lo ali de rosto barbeado, cabelo penteado e com flores!
— Serias capaz de me perdoar estes anos de penúria a que tenho te submetido? — Disse o marido emocionado.
A senhorinha beija-lhe as mãos e diz. — Se prometer nunca mais desistir da vida, se me der flores uma vez por semana, se arrumar o balanço da beira do rio, e levar nossos netos para pescar todo o verão. — Com o rosto molhado de lágrimas ele força um sorriso. — Só isso! — Não meu querido... Tudo isso faz parte de ser feliz. Quero muito que o sejas. — Temos um trato então... — E foi com os dois abraçados que Carlos e Ivone entraram no quarto contentes dizendo que se a Dona Joana continuasse reagindo bem, estaria de alta no dia seguinte.
No dia seguinte Juca já teria comunicado aos filhos que a esposa tinha sido hospitalizada, mas que já estava de volta em casa. Queria combinar se podiam fazer-lhe uma surpresa e virem todos para um fim de semana.

Em casa de noite, quando já estava para ir deitar Juca ouve batida na porta. Era Carlos que muito nervoso dizia que era para irem ao hospital, pois a Joana estava com febre alta.
Lá o Juca passou a noite toda molhando sua boca seca e murmurando palavras de carinho nos ouvidos Joana... E foi num destes delírios que ela lhe sorriu e faleceu.
Só Carlos e Ivone foram as testemunhas de quanto este homem sofreu para sobreviver aos dias que nasceram depois de Joana.
E ele se arrastava para fora da cama todos os dias, fazia suas refeições com dificuldades, ia para os campos com a alvorada e voltava a noite somente, consertou o balanço da beira do rio, levava flores para Joana toda a semana e levou naquele verão e em todos que se seguiram, os netos para pescar.
Claro que hoje já se passaram muitos anos e seu Juca é casado de novo e surpreendentemente feliz!
E quando lhe perguntam o motivo de sua alegria ele responde de pronto. — Minha Joana me salvou.

#guerreiraxue
 
Imagem Net

Comentários

  1. UMA HISTÓRIA MUITO COMOVENTE, E COMO DIZIA PLATÃO "NINGUÉM SABE SE A MORTE QUE OS HOMENS, EM SEU MEDO, SUPÕEM SER O MAOIR MAL NÃO É TALVEZ O MAOIR BEM" NESTE CASO ESPECÍFICO FOI A PORTA ABERTA PARA A FELICIDADE DE SEU JUCA FOI A MORTE DA SUA JOANA.

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  2. Belo o conto que me contaste, e porque assim, um pouco de minha inspiração abriste, permitindo-me que deste modo o comente:

    O amor mais sublimado,
    é o que a morte contém,
    dando tempo ao ser amado,
    elevar-se, ir mais além.

    Quem se entrega a um amor,
    alma aberta em sofrimento,
    é entre cardos a flor,
    de mui nobre sentimento.

    Mil abraços, amiguinha.

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  3. DESCULPA HILDA ESTAR A USAR O TEU BLOG PARA ELOGIAR O AMIGO ZÉ LOUREIRO, MAS TEVE MESMO QUE SER POIS QUEM ESCREVE ASSIM É PORQUE VIVE UM GRANDE AMOR, PARABÉNS E BJS

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  4. Que belo conto! Lindo,muita ternura que até as làgrimas vêm aos olhos! Parabéns!

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  5. ESTOU MUITO CONTENTE DE TER UMA IRMÃ ESCRITORA,PARABÉNS TEU SUCESSO ME FAZ FELIZ, NÃO FICOU IGUAL, MAS DIGITEI ALGO POIS ESTOU EMBARCANDO AGORA.

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