O ENTREGADOR II

O ENTREGADOR II

Estou de volta com o nosso amigo Jurandir, este entregador tão comum e com tantas aventuras, que se torna irresistível não documenta-las para apreciação do leitor.
A estas alturas o filho "dele" nasceu e o moço andava as voltas com transporte escolar, muito mais tranquilo claro, o salário era baixo, horário fixo, mas sempre se pode fazer algum frete, serviço free lancer, de fim de semana.
Um dia Jurandir foi fazer umas entregas lá para os fundão do Grajaú, em substituição de um amigo que estava doente.
Não podia se negar ao colega, uma vez que este sempre o socorria em momentos de "aperto" trabalhista e também quando Jurandir caiu do telhado certa vez (outra estória para uma outra ocasião), este salvou-lhe a vida.
E lá se foi o Jurandir a caminho do Grajaú ...Para quem não conhece o Grajaú, este é um bairro da zona sul de São Paulo, é tão grande que mais parece outra cidade dentro da cidade. Umas das muitas evidencias de uma grande metrópole é o contraste social, a desigualdade é gritante que chega a nos saltar aos olhos.
Impossível negar os problemas sociais, os desempregos, falta de oportunidades dignas que culminam com um arrastão de jovens para os tráficos, enfim... Voltemos a aventura do Jurandir então...
"Eu tinha acabado de subir o morro e fui fazer a primeira entrega, a mais  distante, porque depois era só descida. Ao fechar o caminhão percebi dois caras me cuidando. Fiquei alerta... E não deu outra, ao virar uma esquina eles vieram numa moto, acelerei e toquei com tudo, eles de moto conhecem o morro melhor que ninguém. Quando dou por conta, ele batem no meu vidro com o cano do trabuco. Eu baixo o vidro com aquela minha cara de desentendido:
-Pois não! Estão perdidos? Um deles me olha...
-Voce é engraçadinho é? Diz o que voce leva ai.
-Panelas...hoje é dia de panelas meu, pode ver!
Eles esticaram os olhos e viram aquela pilha de caixa de panelas. O parceiro dele, carona da moto, não se conteve:
-Pô meu, tu fez a gente vir "enquadrar" o cara para levar panelas!
-Que merda! Vai te embora desgraçado, e leva estas tuas panelas.
Eu aproveitei e acelerei com tudo, e esta foi minha burrada do dia. Eles tinham me liberado, mas pensando que logo eles iam se "tocar", quis sair logo correndo. Claro que eles perceberam que eu tinha mentido e de novo, me perseguiram.
Acelerei o que deu, e a certa altura eu já estava era perdido, enfim consegui enfiar o caminhão num beco isolado, abri as duas portas, sai correndo  e me escondi, liguei para a polícia dizendo que tinha sido roubado e me identificando como transportadora. Não deu dez minutos, e chegaram com várias viaturas. Quando me aproximei pensaram ser eu o ladrão. Depois das explicações dadas, fui escoltado até a saída da favela. Claro que eu não tinha só panelas, mas sempre ponho os produtos mais baratos a vista. Ainda bem que no dia seguinte o meu amigo estava de volta... E se não consegui fazer suas entregas, pelo menos não fui roubado aquele dia. Risos...
 Todo entregador que se preze, tem um certo treinamento de como se comportar em caso de assalto, porém tem ações que escapam na hora do confronto mesmo, e segundo o Jurandir ."É entregar para Deus e torcer para dar certo no final das contas.
Outro detalhe importante, se quiser que a policia chegue logo, tem que dizer que é de transportadora, pois existe um seguro recompensa para quando conseguem recuperar a carga."
Minha admiração e respeito para estes "Jurandir" do mundo, que se atiram para a vida todos os dias, em busca do digno sustento dos seus.
Guerreira Xue

                   Imagem Net

Comentários

  1. Ai amiga Hilda ainda nós pensamos que a coisa aqui está preta, mas pelo que sei os nossos "jurandirs" não correm tanto perigo, até ver!!!! Será pelo aumento de diferenças socias que os crimes estão a aumentar ou será mesmo por maldade humana? Não sei não!!! Muito bem escrito, gostei e continua a enviar, bjs

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