A VERDADE DE CADA UM
A professora entrou na sala e logo foi dizendo: — Quero um exemplo de superação hoje.
Os alunos sabiam bem que, quando aquela senhorinha frágil queria era mesmo o centro das atenções.
Podia estar a maior das algazarras, ela entrava em sala, e todos prestavam atenção. Claro que o fato dela usar cadeira de rodas era bastante relevante aqui. Porém, ela tinha espírito e sabia os manobrar como ninguém. E para ser sincera, não havia quem a detestasse na escola secundária.
Marina era uma negra de origem humilde que, viveu a vida toda na favela.
Tinha uns olhos enormes, do tamanho dos seus sonhos, e os seus sonhos eram tão gigantes quanto o brilho profundo que lhe saía genuinamente do olhar. Tão grandes quanto o saco de pano sujo que trazia sempre a tiracolo... o portátil ninho da Simone. A Marina adorava a sua Simone, levava-a para todo o lado...
Sissi, como lhe chamava desde que se conheceram, era uma cadelinha minúscula que apareceu no seu caminho e nunca mais a abandonou. Era uma companheira para tudo e mais alguma coisa e portava-se como gente, só tinha uma pata e parecia não lhe fazer falta alguma porque, não a impedia de ser a sombra da menina que acompanhava.
— De que tipo professora? Perguntou Janete
— Qualquer uma. Afinal superação é superação. Respondeu Marina
Gustavo, o mais calado emenda logo; — Pode ser a mulher que com uma receita simples salvou inúmeras vidas no norte e nordeste do país?
E Felipe diz: — Pode ser a pessoa que não tinha nada que, em compensação deu teto, casa e comida a dezenas de jovens?
— Pode ser quem vocês quiser. Quero este trabalho em equipe pois por mais que nos esforcemos, sozinho somos nada. Disse Marina com bom humor.
Ela própria nunca estava sozinha. A Sissi acompanhava-a para todo o lado, como ela dizia, era a cadela da vida dela, nunca a largava e se tivesse de estar três horas à porta da escola à sua espera não arredava pé do mesmo lugar onde ela lhe tinha dito para ficar e isso só acontecia quando vinha o Inspetor à escola, de resto Sissi andava ao seu colo, pois era tão minúscula e sossegada. O mesmo não acontecia com Simone, a fadinha do portátil, que era rabugenta e incomodava meio mundo com os seus ruídos ensurdecedores. Às vezes a Sissi, quando tinha frio, aninhava-se ao lado da Simone, dentro da mochila do portátil. Devia chamar-se Magalhães, mas ela chamou-lhe Simone, a fadinha que dava alma ao menor computador do mundo e que lhe permitia escrever longas histórias para os alunos meninos que a ouviam maravilhados.
Esta menina Marina, tirada de um conto de fadas, punha os alunos a vibrar com as suas histórias de encantar. Também os fazia estremecerem com as histórias verdadeiras, como a dela, que sempre tinha lutado para poder ser tudo quanto queria. E ela queria pouco, só que a vida não lhe foi dócil e teve realmente de se superar para ser o que hoje é. Começara a trabalhar demasiado cedo, mas nunca deixou de estudar, e aos dezoito anos já estava a entrar para a faculdade, no ano em que se apaixonou por um surfista, um rapaz alourado com coca-cola e sol em demasia.
Começou a praticar surf e um dia de nuvens esbranquiçadas entrou numa prova com o objetivo de ficar em primeiro lugar, passados uns dez minutos bateu com a cabeça num rochedo, depois de vários dias em coma, ficou paralítica. O rapaz desistiu dela, mas ela não desistiu nem de estudar nem de lutar pela defesa dos seus próprios valores, como sempre tinha feito.
— Alguém já ouviu falar de um escritor poeta e pintor que atende pelo nome de Christy Brown?
Como ninguém lhe responde ela continua; — Um irlandês de família humilde, era o décimo de vinte dois irmãos. O sujeito nasceu em 1932 com paralisia cerebral sendo privado dos movimentos do corpo com a única exceção, do pé esquerdo. Tempos de guerra no mundo, imaginem só.
Pois é, ele aprendeu a ler escrever e desenhar com o pé. Tornou-se uma referencia mundial, um gênio.
Sua dependência de álcool encolheu consideravelmente sua vida. Morreu aos 49 anos, era jovem. Alguém que superou tanta dificuldade acabou por deixar-se levar pelo vicio.
Há uma frase de Machado de Assis que diz o seguinte: “O coração do humano é a região do inesperado.”
De minha parte emendo que a mente também é poderosa e qualquer um pode ser ou fazer o que quiser, desde que tenha um objetivo. Ninguém precisa ser fracassado ao se deparar com obstáculos. Espere, pense, dê a volta. Só tem que insistir naquilo que realmente se quer.
Aquela moça cheia de vida na sua cadeira de rodas era uma heroína nata. E todos ali, não tinham a menor dúvida disso.
Por vezes ela ainda pensava na vida de antes. Ficava triste também, afinal perder os movimentos foi um golpe.
Perder o Bruno foi uma natural parte do processo das mudanças em sua vida. O namorado se corroía num misto de pena e culpa pelo o acidente. O rompimento foi proposto por Marina, uma saída honrosa para uma situação que já se tornara insustentável. Chorou muito na ocasião.
Teve de reaprender quase tudo no dia a dia. Esforço encarado com bom humor e uma vontade de ferro.
Muitas vezes ela sonhava que voava, sentia o vento nos cabelos, corria pelos campos, acordava pela manhã com a sensação de que ia levantar. Então passou a pensar uma coisa. Seu corpo agora tinha limites, porém sua mente não. Por mais incrível que isso pudesse parecer, ela sentia uma alegria tão imensa. Ela sentia gratidão
Os alunos sabiam bem que, quando aquela senhorinha frágil queria era mesmo o centro das atenções.
Podia estar a maior das algazarras, ela entrava em sala, e todos prestavam atenção. Claro que o fato dela usar cadeira de rodas era bastante relevante aqui. Porém, ela tinha espírito e sabia os manobrar como ninguém. E para ser sincera, não havia quem a detestasse na escola secundária.
Marina era uma negra de origem humilde que, viveu a vida toda na favela.
Tinha uns olhos enormes, do tamanho dos seus sonhos, e os seus sonhos eram tão gigantes quanto o brilho profundo que lhe saía genuinamente do olhar. Tão grandes quanto o saco de pano sujo que trazia sempre a tiracolo... o portátil ninho da Simone. A Marina adorava a sua Simone, levava-a para todo o lado...
Sissi, como lhe chamava desde que se conheceram, era uma cadelinha minúscula que apareceu no seu caminho e nunca mais a abandonou. Era uma companheira para tudo e mais alguma coisa e portava-se como gente, só tinha uma pata e parecia não lhe fazer falta alguma porque, não a impedia de ser a sombra da menina que acompanhava.
— De que tipo professora? Perguntou Janete
— Qualquer uma. Afinal superação é superação. Respondeu Marina
Gustavo, o mais calado emenda logo; — Pode ser a mulher que com uma receita simples salvou inúmeras vidas no norte e nordeste do país?
E Felipe diz: — Pode ser a pessoa que não tinha nada que, em compensação deu teto, casa e comida a dezenas de jovens?
— Pode ser quem vocês quiser. Quero este trabalho em equipe pois por mais que nos esforcemos, sozinho somos nada. Disse Marina com bom humor.
Ela própria nunca estava sozinha. A Sissi acompanhava-a para todo o lado, como ela dizia, era a cadela da vida dela, nunca a largava e se tivesse de estar três horas à porta da escola à sua espera não arredava pé do mesmo lugar onde ela lhe tinha dito para ficar e isso só acontecia quando vinha o Inspetor à escola, de resto Sissi andava ao seu colo, pois era tão minúscula e sossegada. O mesmo não acontecia com Simone, a fadinha do portátil, que era rabugenta e incomodava meio mundo com os seus ruídos ensurdecedores. Às vezes a Sissi, quando tinha frio, aninhava-se ao lado da Simone, dentro da mochila do portátil. Devia chamar-se Magalhães, mas ela chamou-lhe Simone, a fadinha que dava alma ao menor computador do mundo e que lhe permitia escrever longas histórias para os alunos meninos que a ouviam maravilhados.
Esta menina Marina, tirada de um conto de fadas, punha os alunos a vibrar com as suas histórias de encantar. Também os fazia estremecerem com as histórias verdadeiras, como a dela, que sempre tinha lutado para poder ser tudo quanto queria. E ela queria pouco, só que a vida não lhe foi dócil e teve realmente de se superar para ser o que hoje é. Começara a trabalhar demasiado cedo, mas nunca deixou de estudar, e aos dezoito anos já estava a entrar para a faculdade, no ano em que se apaixonou por um surfista, um rapaz alourado com coca-cola e sol em demasia.

Começou a praticar surf e um dia de nuvens esbranquiçadas entrou numa prova com o objetivo de ficar em primeiro lugar, passados uns dez minutos bateu com a cabeça num rochedo, depois de vários dias em coma, ficou paralítica. O rapaz desistiu dela, mas ela não desistiu nem de estudar nem de lutar pela defesa dos seus próprios valores, como sempre tinha feito.
— Alguém já ouviu falar de um escritor poeta e pintor que atende pelo nome de Christy Brown?
Como ninguém lhe responde ela continua; — Um irlandês de família humilde, era o décimo de vinte dois irmãos. O sujeito nasceu em 1932 com paralisia cerebral sendo privado dos movimentos do corpo com a única exceção, do pé esquerdo. Tempos de guerra no mundo, imaginem só.
Pois é, ele aprendeu a ler escrever e desenhar com o pé. Tornou-se uma referencia mundial, um gênio.
Sua dependência de álcool encolheu consideravelmente sua vida. Morreu aos 49 anos, era jovem. Alguém que superou tanta dificuldade acabou por deixar-se levar pelo vicio.

Há uma frase de Machado de Assis que diz o seguinte: “O coração do humano é a região do inesperado.”
De minha parte emendo que a mente também é poderosa e qualquer um pode ser ou fazer o que quiser, desde que tenha um objetivo. Ninguém precisa ser fracassado ao se deparar com obstáculos. Espere, pense, dê a volta. Só tem que insistir naquilo que realmente se quer.
Aquela moça cheia de vida na sua cadeira de rodas era uma heroína nata. E todos ali, não tinham a menor dúvida disso.
Por vezes ela ainda pensava na vida de antes. Ficava triste também, afinal perder os movimentos foi um golpe.
Perder o Bruno foi uma natural parte do processo das mudanças em sua vida. O namorado se corroía num misto de pena e culpa pelo o acidente. O rompimento foi proposto por Marina, uma saída honrosa para uma situação que já se tornara insustentável. Chorou muito na ocasião.
Teve de reaprender quase tudo no dia a dia. Esforço encarado com bom humor e uma vontade de ferro.
Muitas vezes ela sonhava que voava, sentia o vento nos cabelos, corria pelos campos, acordava pela manhã com a sensação de que ia levantar. Então passou a pensar uma coisa. Seu corpo agora tinha limites, porém sua mente não. Por mais incrível que isso pudesse parecer, ela sentia uma alegria tão imensa. Ela sentia gratidão

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