O Engano

O carcereiro se aproxima da cela e diz:
-Visita para voce, Manuel Costa.
Passos lento pelo grande corredor da prisão,o detento segue o guarda como se fosse um autômato
Nem se dá ao trabalho de perguntar quem é a pessoa que o viera visitar, pois a vida parece te-lo abandonado no dia em que matou Helena. Agora não havia nada dentro daquele homem, nem raiva, nem amor, nem dor e nem alívio, só vazio, um grande e enorme vazio.
Quando entra na sala de visitas é que vê Carolina, amiga e moradora nos fundos de seu quintal de longa data.
-Como vai Manuel, meu amigo? Estás precisando de alguma coisa?
Trouxe-lhe cigarros e um bolo que de tão revirado na revista, virou farofa. Disse, fazendo graça
Lamento muito o acontecido...
Manuel  só movimenta a cabeça em sinal que estava tudo bem. Agradeceu os cigarros e o bolo
-Conversa comigo Manuel, por favor. Quero entender o que houve homem de Deus!
Voces estavam tão felizes e o casamento marcado para aquela semana fatídica. Devo dizer que ninguém entendeu absolutamente nada do que houve.
A Helena não cabia em si de tanta alegria. Vocês brigaram?
Por que estragou sua vida cara, por que a matou?  Silencio
-Contratei um bom advogado para defende-lo porém, precisas ajudar.Seu julgamento está próximo, senão cooperar vai pegar pena máxima.


Esta é uma daquelas histórias que começam pelo fim.
O sujeito matou a mulher com quem ia se casar e agora, estava a espera do julgamento.
-Não me importo mais, matei a mulher que amava e morri também com ela.
-Mas por que fez isso homem, se voce a amava!?
-Quando eu sai de casa  para o trabalho naquele dia percebi que Helena estava com a meia  da perna direita furada, ainda fiz um comentário a este respeito, me despedi e fui para meu trabalho normalmente porém, chegando lá dei pela falta de uns documentos que havia deixado em casa.
Liguei para casa várias vezes e ninguém atendeu. Estranhei que ela não estava e foi me dando uma agonia, esperei até a hora do almoço, pois com este transito infernal, eu perderia muito tempo.Quando na hora do almoço eu cheguei de volta em casa ela me esperava contente como sempre.Perguntei-lhe se havia saído ela respondeu que não ,deu-me um beijo e foi pegar a comida na cozinha.Quando ela se virou percebi  a meia furada novamente,só que estava na perna esquerda agora. Aquilo foi um impulso cego, me levantei fui até meu quarto peguei o revolver e descarreguei nela.
Antes de cair ela me olhou com os olhos marejados e falou num sussurrou. -Por quê?!
Disse-lhe que nunca admitiria que me traísse.
Chocada, Carolina retruca:
-Achou que ela te traiu por causa da meia trocada? Porque ela disse que não havia saído?
Eu sei por que a meia estava trocada, e sei por que ela te disse que não havia saído.
Estávamos juntas aquela manhã. E ela não havia te mentido, eu moro no mesmo quintal que vocês.
E quanto a meia trocada, eu tinha um par delas, lindas por sinal, que não me serviu e Helena experimentou  para ver se lhe servia e distraída como era, deve ter posto as meias trocadas.
Custo a crer que tenha sido este o motivo do assassinato. Ela estava tão feliz com o casamento e quando soube que  estava grávida então... Ia te contar aquele dia.
Por um momento os olhos de Manuel parecem faiscar... Ia ser pai... Soube quando recebeu o resultado da pericia médica
-Helena era prostituta desde os treze anos e foi assim que a conheci Carol.
Fugiu de casa ainda menina, pois sofria abuso dos pais alcoólatras, segundo me contou ela  morou algum tempo na rua até que, sem muita opção, começou a se prostituir.
No nosso terceiro encontro, eu já tinha certeza que gostava dela. Perguntei-lhe se queria largar "aquela vida". Ela acenou que sim, mas teria que acabar seu curso de esteticista ainda, do contrário não teria como se sustentar.
-Eu te sustento até acabar se você aceitar morar comigo. Quer?
-Precisa de mulher pra que?!
-Boa pergunta.Deu um leve sorriso
-Não sei, gosto de você e eu sou solteiro faz tempo.Se tentarmos quem sabe pode dar certo.
-E se não der?
- Cada um volta a cuidar da própria vida.
Ela aceitou com alguma reserva no princípio. Depois de algum tempo os dois não se aguentavam mais, de tanto contentamento um com o outro.
-Pedi-lhe na época, que não contasse a ninguém que era prostituta e ela concordou de imediato, afinal isso não era coisa que se tivesse orgulho.
Minha casa era simples, mas para ela era um palácio. Não tenho "grandes dinheiro", e  ela me achava rico.
Gostava de sua vós suave, seu andar, suas mãos, seu cheiro.
-E ainda assim você a matou... Ainda não entendo a razão.
-No dia que lhe dei o anel de noivado a fiz prometer que nunca me enganaria. E ela me jurou que jamais me seria infiel.
Quando ela me disse que não havia saído naquela manhã e juntando o fato de ter trocado a meia, não tive dúvidas, ela estava me traindo sim.
Muito desolada Carolina conclui
-Que coisa triste Manuel! Você na verdade não esquecia que ela era uma prostituta, não? Podia que ninguém de sua família ou amizade soubessem, porém você sabia.
-Sim e foi por isso que eu a matei, por não esquecer que ela havia sido uma prostituta.
-Acabou a visita, vamos! Disse o carcereiro.
Os dois amigos se despedem e Carolina promete voltar. Manuel não se importa se ela volta ou não.
Sua vida acabou.
Carolina sai triste e pensativa.
Helena  dizia que o que estava vivendo era um conto de fadas e Manuel era seu príncipe.
Ela sabia que a amiga havia sido prostituta. Esta contou-lhe uma vez em confidencia. A principio ficou  tensa com esta revelação, afinal nunca conhecera uma puta tão de pertinho, porém não demorou muito para relaxar na presença de Helena, que era mesmo um encanto de moça, ela não tinha aquela malicia peculiar as profissionais do sexo, e acima de tudo, amava Manuel com verdadeira devoção.
O pobre Manuel, agora terá bastante tempo para se arrepender.

Guerreira Xue

                           Imagem da Net

Comentários

  1. Não direi delicioso conto, porque contem uma tragédia. Emocionaste-me, querida Hilda.
    Um abraço amigo.

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  2. Puxa! Um conto prá lá de denso e emocionante. Você mexe com a nossa imaginação.
    Bjuss

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