UM NATAL SEM BOLAS

O que vou narrar aqui é deveras estranho para ser real e confesso que fiquei em dúvida se podia mesmo revelar-lhes, e espero não prejudicar ninguém com isso.
Era dezembro de mil novecentos e bolinha e como sempre, todos numa correria doida na cidade.
Não entendo direito isso, todos andam sem menor pressa durante o ano todo e, quando chega no dezembro as pessoas parecem ter de repente lembrado que, ou esqueceram a panela no fogo, ou tem que tirar o pai da forca, ou comprar o carro novo, comprar os presentes, e acima de tudo, lembram do coitado do peru. Oh  que dó!
Letícia não ligava muito para isso de festas, porém fora criada dentro do judaísmo e algumas comemorações são de cunho cultural na vida de toda judia.
Roberto era um cara  bem humorado e inteligente, sempre foi de viajar e trabalhava com construção civil e foi numa destas convenções importantíssima que conheceu Letícia. Foi amor a primeira segunda e terceira... Vista. Quando se deram conta, não queriam mais morar separados.
E quem diz que a vida é redonda? Os dois tinha ainda que contar suas histórias de família...
Leticia era judia e seu pai era um ribbí(rabino) e Roberto era de família católica praticante, tão praticante que até tinha dois irmãos padres.Resumindo, mais confuso isso não poderia ser...
Pois é, os dois enamorados  combinaram o seguinte, como os pais dos dois  eram radicados em Connecticut a familia de  Roberto era de Fairfield Condado/Dambury, e  no mesmo estado os pais de Letícia moravam em  West Hartford. Sabiam ambos que se quisessem viver bem, e terem tempo calmo para conhecerem-se, precisariam ficar longe da duas famílias, pelo menos por enquanto, uma vez que em qualquer religião que se preze, eram unanimes em afirmar que a família é um vínculo mais forte na existência do ser humano.
E assim foi... Foram morar na cidade onde Letícia estava fazendo seu mestrado.
Os dois se revezavam com suas respectivas famílias...  Casaram-se então segundo as tradições judaicas cumprindo todas as etapas que o cerimonial exigia. E quando questionado sobre a ausência de sua família, Roberto mencionava qualquer desculpa, e se causava alguma curiosidade a seu respeito, os demais não falavam nada. Afinal eram mesmo apaixonados os dois.
Se casaram dentro da igreja católica seis meses depois com a cerimonia realizada pelos dois irmãos padres de Roberto, e Letícia também alegou qualquer coisa a respeito da ausência de seu progenitores.
Quando  os dois cumpriram as obrigações matrimoniais, foram pra seu cantinho viver a vida...
Milagrosamente conseguiram viver seus quatro anos de casados, os  dois e uma gata chamada Star, até "aquele" famoso natal.
Os pais de Roberto vinham passar o natal com eles ,então montavam tudo de acordo, com direito a árvore, presentes, peru e que mais fosse preciso.Tinham novidades também, iam ter um bebê e ambos não cabiam em si de tanta alegria, combinariam de dar a noticia  no natal como um presente, pois seus pais andavam ansiosos por boas notícias.
Estava tudo correndo conforme o previsto porém, por intervenção do destino as coisas se precipitaram um pouco desta vez...
No dia 24 de  natal a campainha toca e quem era?
Ali bem na porta, estavam os pais de Letícia ...
_Surpresa!!!
Quase que Leticia desmaia de susto , sua mãe tinha um pequeno cão no colo que imediatamente se solta e corre pela casa feito doido atras de Star que estava tranquila em cima da lareira... Aquilo foi um corre corre, e Star não tinha tinha por onde escapar, derrubaram tudo que havia naquela sala, incluindo a árvore de natal.
Seus pais vieram porque construiriam uma sinagoga bem próximo dali, e estavam presentes para conduzir a construção da mesma.
Agora era hora de  falarem a verdade, não havia como fugir mesmo porque, em poucos minutos e em meio aquela bagunça toda, apareceram os pais de Roberto.
_Então vocês não são católicos?!
_Então vocês não são judeus?!
_Sim, somos  judeus e somos católicos. Respondeu Roberto
_Somos as duas coisas e somos também arquiteto e professora, marido e esposa, e somos também filhos de vocês e em breve, seremos pais...
 Embora estupefatos os pais não conseguiram conter sua alegriaa a tal ponto que ninguém se importou com mais nada.Claro que os festejos além de ser pelo nascimento de cristo era também, pela chegada de um neto que seria meio católico e meio judeu.
Foi um natal fantástico onde a crença de qualquer um era inspirada no amor e na fraternidade, no respeito e principalmente na vontade de serem felizes. Estes dois fizeram e fariam qualquer coisa para ficarem juntos.
E assim... Com a árvore completamente destruída pelo cãozinho que perseguia a gata, aconteceu aquele inesquecível e maravilhoso natal sem bolas.
Guerreira Xue

                            Imagem net

Comentários

  1. O que eu penso sobre o Natal, querida amiga, resume-se ao que troxe do meu blogue:

    O Natal é a filhó,
    a gostosa rabanada,
    a também fofa bilhó,
    o repasto, a consoada.

    É também um bom licor
    e, um tintinho divinal,
    para à mesa darem cor,
    darem calor ao Natal.

    É o cantar as janeiras,
    o dia de mil perdões,
    os madeiros, as fogueiras,
    o prazer dos foliões.

    É amor, é harmonia,
    o mais belo hino cantado,
    a exuberante alegria,
    por um parto desejado.

    É o canto a um Chegado,
    suposto filho de Deus,
    e por não crentes cantado,
    como se fosse dos seus.

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  2. Resumindo Zé:- Um banquete de tudo que existe de bom distribuido em igual para todos, e sem distinção alguma.:-)

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